1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Jornal Folha 8 novamente sob censura em Angola

28 de março de 2012

A Procuradoria-Geral da República de Angola mandou retirar das próximas capas do jornal Folha 8 citações referentes a um suposto incidente com o general José Maria, chefe dos serviços de informação militar do país.

https://p.dw.com/p/14T6C
Folha 8 proibido de citar em sua capa referências a um suposto incidente com o general José Maria, chefe dos serviços de informação militar de Angola
Folha 8 proibido de citar em sua capa referências a um suposto incidente com o general José Maria, chefe dos serviços de informação militar de AngolaFoto: fotolia/mezzotint

Esta é mais uma investida contra um dos mais antigos semanários independentes de Angola. A Procuradoria-Geral da República exigiu, na última segunda-feira (26.03.), que o Folha 8 retire de sua capa toda e qualquer citação sobre um incidente que terá acontecido, há dois anos, com o chefe da Secreta Militar e assessor da Casa Militar da Presidência da República, general José Maria.

Segundo um comunicado da Procuradoria, "os dizeres que legendam a fotografia transmitem uma mensagem enganosa e difamatória, porque falsa e atentatória ao bom nome e à dignidade da Justiça de Angola, porquanto não houve no caso em alusão qualquer acto de denegação da Justiça”.

Acusações de impunidade

O general José Maria teria esbofeteado um guarda de uma instituição pública, em Luanda, pelo simples facto de ele alegadamente não se ter levantado quando viu o oficial superior a fazer o seu treino matinal. O assunto foi denunciado e o jornal de William Tonet passou a incluir na sua capa uma espécie de contagem dos dias de alegada impunidade do general.

Na última segunda-feira (26.03), a Procuradoria-Geral da República declarou que Tonet e o seu semanário podem ser indiciados por crime de difamação e atentado contra as normas do jornalismo.

Capas do semanário continham contagem dos dias de alegada impunidade do general José Maria, chefe dos serviços de informação militar de Angola
Capas do semanário continham contagem dos dias de alegada impunidade do general José Maria, chefe dos serviços de informação militar de AngolaFoto: Screenshot

Defesa: faltam provas

Para o editor-chefe da publicação, Fernando Baxi, "quem não deve, não teme" e, garante, " toda a informação que está lá é normalíssima". Baxi acrescentou que "[o jornal] não tem nenhuma matéria que compromete o nome do responsável máximo do Folha 8 ou funcionário de base do semanário".

Há aproximadamente duas semanas, cerca de 20 agentes da Polícia de Investigação Criminal e um procurador entraram na sede do jornal, na baixa de Luanda, e apreenderam todos os computadores da redação.

Pela liberdade de expressão

O Instituto dos Meios de Comunicação da África Austral, MISA, é claro na condenação. O presidente da mesa de assembleia-geral do instituto, Isaac Neney, defende a independência da classe jornalística, demandando "que tenham um outro tipo de consciência, um bocadinho distanciada dos partidos políticos, para que consigam fazer melhor arbitragem".

O Folha 8 já tem nas costas 80 processos-crime. Na sua maioria, movidos por gente próxima ao poder, sobre alegadas calúnias, difamações e injúrias. Contudo, o seu diretor, William Tonet, nunca cumpriu pena de cadeia devido a crimes jornalísticos.

Sede do jornal de William Tonet (foto) foi invadida pela Polícia de Investigação Criminal e teve os computadores apreendidos
Sede do jornal de William Tonet (foto) foi invadida pela Polícia de Investigação Criminal e teve os computadores apreendidosFoto: VOA

O analista Reginaldo Silva prevê "grandes pressões políticas sobre a comunicação social, particularmente a pública," num ano em que Angola volta às eleições.

Autor: Manuel Vieira (Luanda)
Edição: Cris Vieira/Marta Barroso

Saltar a secção Mais sobre este tema