Esperar e desesperar. É assim que a imprensa alemã sintetiza a situação vivida no Quénia, que realizou eleições gerais na última segunda-feira (04.03).
"Os quenianos continuam à espera de um novo presidente. Na noite de terça-feira (05.03), o sistema eletrónico de contagem de votos colapsou. Nessa altura estavam apurados 47% dos votos", escreve o Der Tagesspiegel. Na manhã do dia seguinte (06.03), o Quénia "não estava apenas impaciente, mas houve uma escalada de tensão", prossegue o jornal.
Depois da comissão eleitoral ter decidido retomar do zero a contagem dos votos e fazê-lo manualmente, o primeiro-ministro, Raila Odinga passou para a frente da corrida, nalgumas regiões do país, onde a contagem eletrónica lhe conferia desvantagem face a Uhuru Kenyatta.
O nervosismo que se sente em Nairobi é tema de um longo artigo no Süddeutsche Zeitung. O diário de Munique escreve que "cada hora que se atrasa a divulgação dos resultados eleitorais aumenta o receio de que se registem de novo excessos de violência ". Nas últimas eleições, em 2007, mais de 1.200 pessoas morreram no período imediatamente depois do escrutínio, no final daquele ano.
A avaria no sistema informático anulou uma grande parte dos votos das eleições presidenciais. O computador multiplicou por oito os votos rejeitados.
O número de votos rejeitados poderá vir a ter um grande impacto no resultado final, no caso de nenhum dos candidatos obter os 50% necessários para a vitória e for necessário ir a uma segunda volta. Prevê-se que a segunda volta se dispute entre Raila Odinga, que perdeu o sufrágio de 2007 para Mwai Kibaki, e Uhuru Kenyatta, que é aguardado no Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia, na Holanda, no dia 09.07 para responder sobre crimes de guerra cometidos durante a vaga de violência de 2007.
Alianças perigosas
" A guerra do Mali está longe de ter acabado. A aliança da França com os tuaregues do MNLA [Movimento Nacional de Libertação do Azawad] dificulta a reconciliação nacional", escreve o Die Zeit. Em Gao, maior cidade do norte do Mali. a vida é agora mais perigosa do que antes da libertação: atentados suicidas, minas e antipessoais escondidas, tiroteios. Mais a norte na região desértica de Kidal, zona tuaregue, a guerra está na sua 'fase quente'", acrescenta o semanário.
Crer que os tuaregues são uma minoria globalmente discriminada é um erro, pelo menos no que toca aos últimos 15 anos. Em muitos sectores políticos eles estão sobre-representados: no Parlamento, por exemplo, têm lugares suplementares e não é justo, segundo o Die Zeit, "falar de uma marginalização económica do Norte do Mali". A má governação nesta região teve consequências fatais, uma vez que o clima, a geografia e a composição multiétnica tornam os equilíbrios particularmente frágeis.
Guiné-Bissau: paraíso dos barões da droga com a conivência do Estado
"Homens mascarados" é o título escolhido pelo semanário Der Spiegel para uma extensa e duríssima reportagem dedicada à Guiné-Bissau. Ao longo de seis páginas descrevem-se os bastidores do tráfico de cocaína neste país da África Ocidental. "O escritório das Nações Unidas para o combate ao tráfico de droga, UNODC, vê na Guiné-Bissau o único exemplo a nível mundial de um narcoestado. No Afeganistão e na Colômbia, há províncias inteiras nas mãos dos barões da droga. Aqui é todo o Estado."
A Polícia Judiciária não dispõe de meios para combater o tráfico uma vez que quem de facto governa o país são os militares. "O homem de uniforme personifica o poder, não o direito. O general António Indjai é quem manda na Guiné desde o assassinato de Nino Vieira", escreve o Der Spiegel. "Os militares estão convencidos que o país é apenas uma plataforma giratória para o tráfico de droga. Mas começa a desenvolver-se entre a elite guineense um mercado pra o consumo de cocaína. Está-se a desenvolver uma geração de toxicodependentes. Os filhos dos generais".
Elefantes do Niassa ameaçados por cobiça asiática
O Kölner Stadt Anzeiger publica uma reportagem do Niassa, em Moçambique, onde se dá conta dos esforços que estão a ser feitos para combater a caça desenfrada ao marfim. "Para os elefantes, o Niassa era o paraíso na terra. No final da guerra civil, em 1992, eram tantos, que não eram os paquidermes a ter de se defender do homem, mas as populações locais a ter de proteger as suas plantações de milho com cercas eléctricas. Agora tudo mudou. "Um caçador ilegal pode viver durante um ano com o produto da venda do marfim: pode comprar uma motorizada, gasolina, oferecer bebidas às mulheres de que gosta. Enfim: é um rei", escreve o jornal.
O tráfico de marfim tornou-se um negócio global, explorado por grupos criminosos internacionais. Na última década, 62% dos elefantes africanos foram mortos por caçadores furtivos, num negócio que movimenta muitos milhões de dólares e que cada vez mais segue o padrão do tráfico de droga. O principal mercado de escoamento dos dentes de elefante e chifres de rinoceronte é o mercado asiático onde o marfim é visto como um símbolo de estatuto social.