Ivone Soares: "Nunca irei lavar roupa suja na rua"
10 de maio de 2024Na terça-feira (07.05), Ivone Soares, membro da RENAMO, apresentou a sua candidatura a presidência do partido, que deverá escolher o seu presidente entre 15 e 16 de maio na província da Zambézia. A candidatura da deputada e "herdeira natural de Afonso Dhlakama" causou surpreesa devido ao silêncio que a caraterizou nos últimos tempos, marcados por um interesse extraordinário de vários membros em candidatar-se a liderança do partido, agora ocupada por Ossufo Momade.
"Eu estou concentrada em ser presidente da RENAMO", garantiu a deputada. A DW entrevistou a primeira mulher do maior partido da oposição em Moçambique a concorrer a esse cargo:
DW África: O que a leva a candidatar-se?
Ivone Soares (IS): Decido responder positivamente ao apelo dos membros que pediram que me candidatasse. Felizmente tenho um conhecimento profundamente do partido. Mais de 30 anos de militância ativa na RENAMO e tendo sido membro da comissão política nacional por 12 anos, presidente nacional da juventude da RENAMO, chefe do departamento de relações exteriores, porta-voz do cabinete central de eleições, chefe da bancada parlamentar na Assembleia da República, atualmente membro do conselho nacional, entre outras funções políticas que desempenhei os membros do partido consideram que reúno os requisitos necessários para dirigir a RENAMO e fazer da RENAMO a força ganhadora e aglutinadora
DW África: É vista como representante da renovação do partido, nascida após a independência e a primeira mulher na RENAMO a candidatar-se a esse cargo. De que forma está a potenciar isso para conquistar apoio no congresso?
IS: Muitos consideram-me herdeira natural de Afonso Dhlakama por ter trabalhado ao longos dos últimos vinte anos próxima do meu tio. A minha família está ligada a política em Moçambique desde sempre. Não conheço uma realidade política senão a que venho bebendo na RENAMO desde tenra idade. Todos conhecem-me e conhecem o meu potencial. Todos sabem como sou respeitadora, mas também frontal nas minhas abordagens. Mas nunca confundo frontalidade com arruaça. Defendo a boa imagem da RENAMO e dos nossos históricos como a minha própria imagem e nunca irei lavar roupa suja na rua. Sou mãe, líder e bebi dos ensinamentos dos dirigentes do partido desde as minhas primeiras aparições públicas. Hoje, são esses pais e mães da RENAMO que me querem na direção máxima para correr e trazer resultados mais rápido. A todos eles eu agora digo: estou pronta para o desafio e vamos trabalhar todos juntos. Não sou pela exclusão de ninguém, e sou aglutinadora e respeito a todos.
DW África: Ivone Soares é "contaminada" pelo legado do seu tio Afonso Dhlakama. Como utilizaria isso para recolocar a RENAMO no trilho, como almejam muitos moçambicanos?
IS: A minha forma de estar na política foi sempre influenciada pelos heróis da RENAMO, André Matsangaissa e Afonso Dhlakama. Este último não por ser meu tio, mas por ter sido meu chefe, líder e guia no partido desde os meus 14 anos de idade. Trabalhei diretamente com ele durante décadas. Certamente que todos terão orgulho da minha liderança, isso eu prometo.
DW África: Caso seja escolhida na RENAMO, cogitaria uma união de forças com Venâncio Mondlane para vencer as eleições?
IS: Na minha perspetiva, a união de forças vai fazer-se com todos os membros da RENAMO. As pessoas que me pediram para avançar com a candidatura estão a trabalhar comigo para unirmos o Partido do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico. A RENAMO é um partido uno. Contamos com todos os membros e simpatizantes sem discriminação.
DW África: O eleitorado moçambicano promete punir a RENAMO, se o partido insistir em Ossufo Momade como candidato.Qual é o esforço que a RENAMO está a fazer para evitar o descalabro?
IS: A RENAMO está a trabalhar afincadamente para sair vencedora nas próximas eleições. Como sabe, a RENAMO sempre ganhou as eleições. Mas a vitória é roubada pela fraude. Desta vez, a força do povo é demasiado grande, tão grande que nenhuma fraude vai passar.