Interpol procura ex-militar e empresário de Angola por tráfico de mulheres
As mulheres eram enviadas do Brasil para África do Sul, Portugal, Áustria e Angola. Cinco dos sete envolvidos no esquema internacional de tráfico de mulheres, desmantelado pela Polícia Federal do Brasil, foram, entretanto, presos. Restam por deter dois homens angolanos, contra os quais foi dada voz de prisão no Brasil e que são agora procurados pela polícia internacional, Interpol. Um deles é Bento dos Santos Kangamba, apontado como chefe do grupo.
À frente da operação, o delegado da Polícia Federal do Brasil, Luiz Tempestini, explica à DW África: "A investigação começou através de uma fonte humana nossa que trabalha na noite paulistana. Chegou-nos a informação de que haveria um grupo que estava traficando mulheres para Angola. E o destino seria um grande empresário de Angola, conhecido como "Tio Bento", e ele é patrocinador de clubes de futebol, grande empresário, político e deputado federal, antigo brigadeiro da Aeronáutica e casado com a sobrinha do Presidente da República".
Abuso sexual e exploração económico
Segundo o delegado Tempestini, as mulheres sofriam abusos sexuais às mãos de Kangamba, que as colocava também à disposição de parceiros de negócios e amigos. O delegado espera agora pela prisão do general e do braço direito dele, o também angolano, Fernando Vasco Inácio Republicano. Segundo Tempestini, o Brasil passou dois mandados de captura contra estes suspeitos e requereu a assistência de Interpol, estando confiante que os indivíduos serão detidos e extraditados de qualquer país que tenha tratado nesse sentido com o Brasil.
Neste país, o trabalho criminoso era executado pelo músico brasileiro Wellington Edward Santos de Souza, também conhecido como Latyno, sob as ordens do chefe angolano, "Tio Bento", acrescenta Tempestini.
Numerosas vítimas
Ainda segundo o delegado da Polícia Federal Brasileira, cerca de 1500 mulheres foram vítimas deste esquema de exploração sexual. Parte delas era atraída pela promessa de pagamentos, que variavam entre dez mil a 100 mil dólares para programas de sexo no exterior. O delegado detalha, no entanto, que a quadrilha aliciou mulheres com perfis diversos, de famosas a pobres, que nem sequer sabiam que estavam indo para fora do país para se prostituir. Em média, cada mulher brasileira era obrigada a manter cerca de 15 a 20 relações por dia, sem proteção. Quando chegavam, davam-lhes uma bebida que alegadamente prevenia contra a SIDA, evidentemente uma falsidade, já que, como salienta o delegado, semelhante bebida de prevenção e cura milagrosa não existe na medicina: "Pese embora que não temos conhecimento de nenhuma infeção, mas o risco é grande, porque os países da África são conhecidos como tendo os maiores índices de SIDA entre a população".
Tráfico no valor superior a 45 mil milhões de dólares
A quadrilha movimentou, inicialmente, mais de 45 mil milhões de dólares neste esquema de exploração sexual, mas a Polícia Federal Brasileira acredita que o lucro já dobre esta estimativa.
Segundo declaração na agência angolana Angop, o empresário Bento dos Santos Kangamba não recebeu, até à data, qualquer notificação policial sobre o assunto. O empresário nega ter mantido contato, desta forma, com cidadãos do Brasil, África do Sul, Portugal, Angola e Áustria. No desmentido, feito por fonte oficial não identificada, a Angop afirma ainda que a acusação ao empresário foi para atingir e caluniar outras personalidades angolanas.