Angola: Imprensa tem "mau desempenho" nas eleições
3 de setembro de 2017O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) monitorizou a cobertura noticiosa dos principais orgãos de comunicação durante as eleições de 23 de agosto. Como resultado, o SJA atribui nota negativa a vários meios de comunicação social públicos e privados.
"A Televisão Pública de Angola (TPA), a TV Zimbo e a Rádio Nacional de Angola (RNA) sempre dedicaram muito mais espaço ao partido no poder", cita o secretário-geral do SJA, Teixeira Cândido.
Outros meios de comunicação social privados que também favoreceram alguns candidatos em detrimento de outros na cobertura das eleições gerais, segundo a observação dos sindicato angolano.
"A Rádio Despertar esteve completamente colocada à UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola], concedeu muito mais tempo. Nenhum outro partido chegou na casa dos trinta minutos contabilizados nos seus principais serviços noticiosos. A LAC (Luanda Antena Comercial) nos seus principais serviços noticiosos esteve mais ou menos equilibrados, porém tinha programa de analise em que não convidava militantes de outros partidos, convidava comentaristas tencialmente favoráveis ao MPLA [Movimento para a Libertação de Angola]", relata o secretário-geral.
Atuação "lamentável"
O sindicalista afirma que a atuação da imprensa angolana, de forma geral, é "lamentavel". De acordo com Teixeira Cândido, muitos jornalistas esqueceram-se da ética e deontologia da profissão durante a cobertura das eleições.
"De modo geral, a imprensa não esteve bem. Os meios de comunicação prestaram um mau serviço à sociedade. Neste periodo eleitoral, em que se exigia maior rigor, não cumpriram e não fizeram cumprir", diz Cândido.
Entretanto, apesar da má atuação da maioria, alguns orgãos de comunicação públicos e privados destacaram-se positivamente. É o caso do Novo Jornal e o Jornal de Angola. Mas a Rádio Eclesia – afecta a Igreja Católica, foi o meio mais equilibrado, segundo o relatório do SJA. "É o melhor exemplo que temos. A Rádio Eclesia foi neutra, isenta, destanciou-se de qualquer partido político".
MPLA dominou os noticiários
A preferência para o MPLA na imprensa angolana é confirmada também pelo primeiro relatório da recém-criada organização não governamental (ONG) Handeka. O documento indica que quase 85% do tempo dedicado pelas televisões e rádios do país, entre 23 de julho – data do arranque da campanha – e 27 do mesmo mês, foi ocupado pelo MPLA com 332 minutos, num total de 500 minutos.
A ONG observou a cobertura eleitoral com um grupo de voluntários que trabalhou no projeto denominado "Jiku". O seu relatório final será divulgado esta semana.
A Confêrencia Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) chegou a mesma conclusão sobre o trabalho da imprensa. Falando recentemente à imprensa, Dom Filomeno Vieira Dias, presidente da organização, não teve dúvidas em afirmar que os orgãos públicos favoreceram o candidato do MPLA, João Lourenço. "Houve por parte de alguns orgãos, sobretudo os orgãos estatais, houve o previlegiar de uma candidatura e vocês conhecem".
Aos jornalistas, a CEAST, na voz de Dom Filomeno Vieira Dias, lembrou: "O jornalista não é um ativista".