Imprensa alemã questiona soluções eleitorais na RDC
11 de novembro de 2011As eleições na República Democrática do Congo (RDC) e na Libéria, o terrorismo islâmico na Nigéria, os conflitos internos no partido que governa a África do Sul e o fechar de olhos do Ocidente ao comércio de diamantes oriundos do Zimbabué, foram os principais temas da actualidade africana em destaque na imprensa alemã, durante a semana que termina nesta sexta-feira (11.11).
Relativamente à RDC, o diário “Die Tageszeitung”, de Berlim, descreve as dificuldades políticas e logísticas que caraterizam a realização das eleições legislativas e presidenciais de 28 de Novembro, marcadas pela forte animosidade entre apoiantes do presidente Joseph Kabila, há 10 anos no poder, e militantes do partido da oposição União Democrática para o Progresso Social (UDPS), liderado por Etienne Tshisekedi.
Fragilidade política
O diário refere os receios das organizações de defesa dos direitos humanos de que o sufrágio não seja justo e que o “período pós-eleitoral seja conturbado”, face aos confrontos entre apoiantes da maioria presidencial e da oposição, registados desde o inicio da campanha eleitoral, em 28 de Outubro, em Kinshasa, e noutras regiões do centro e sul do país.
“Não há um dia” – sublinha “Die Tageszeitung” – “em que não se registem episódios de violência [e] provocações entre ambas as partes”. O jornal enfatiza o facto de o candidato presidencial Tshisekedi ter dito, numa entrevista televisiva, que “seria presidente com ou sem eleições”.
Sobre as eleições presidenciais na Libéria, o diário “Die Welt”, de Bona, escreve: “A Prémio Nobel tem agora de lutar pela sua paz” titulava o “Die Welt” referindo-se ao boicote eleitoral de Winston Tubman, rival da candidata Ellen Johnson Sirleaf, reeleita na segunda volta das presidenciais. “Esta decisão mostra como é frágil a paz neste país da África ocidental”, sublinha o jornal.
Instabilidade partidária
O diário “Der Tagesspiegel“, de Berlim, debruça-se sobre a instabilidade política reinante no seio do ANC – Congresso Nacional Africano – partido governamental da África do Sul, que suspendeu o controverso líder da sua organização juvenil, Julius Malema, por um período de cinco anos, devido ao alegado caráter divisionista das suas atividades. “A decisão não constitui uma surpresa”, considera o periódico berlinense.
Apesar dos seus discursos contra a população branca, que o tornaram famoso, Malema não foi considerado culpado pela comissão disciplinar do ANC de “propagação do racismo e intolerância política”.
Este processo é visto como uma guerra de influências dentro do ANC antes do importante congresso agendado para o final de 2012. O Presidente Jacob Zuma tem sido cada vez mais contestado pelos jovens do partido, que o acusam de nada fazer para a transformação socio-económica do país, depois de 17 anos de poder do ANC. É possível que esta suspensão que poderá ser o ponto final na carreira de Malema ajude Zuma a garantir o seu segundo mandato como líder partidário. “ Zuma vê-se assim livre de um dos seus acirrados críticos”, escreve o “Der Tagesspiegel”.
Fundamentalismo islâmico
O “Süddeutsche Zeitung”, escreve sobre o recrudescer do terrorismo islâmico na Nigéria. “São os piores ataques de sempre levados a cabo por extremistas na Nigéria”, sublinha o diário de Munique, referindo-se às ações executadas pelo grupo islamista Boko Haram. Este grupo, que se suspeita tenha ligações com a al-Qaeda no Magrebe Islâmico, reivindicou os ataques no nordeste da Nigéria que vitimaram cerca de 150 pessoas.
“O mais populoso Estado africano, e um dos mais importantes produtores de petróleo do continente, é também um dos países onde a radicalização islâmica se mostra com toda a violência. O objectivo do Boko Haram é impôr a lei islâmica no país e “evitar a influência ocidental nas escolas”, escreve o “Süddeutsche Zeitung”.
Hipocrisia ocidental
Sobre a situação no Zimbabué, o diário de orientação socialista “Neues Deutschland”, de Berlim, considera que “os interesses financeiros do ocidente voltaram a sobrepor-se aos direitos humanos. A União Europeia, a Suíça e outros Estados levantaram a proibição de comercializar diamantes”, oriundos daquele país.
“ O principal beneficiário desta medida – escreve o jornal – será o presidente Robert Mugabe e a sua elite política”. No entender do articulista, “os mineiros de Marange continuam a ser espancados e atacados por cães polícias (…) e a ser tratados de modo desumano e bárbaro”.
A medida abre caminho à retoma das exportações de diamantes provenientes de Marange, depois de um bloqueio de mais de dois anos, imposto pelo Ocidente devido a denúncias sobre violações dos direitos humanos por parte dos militares zimbabueanos contra os camponeses que faziam garimpo artesanal.
Autor: Helena Gouveia/Pedro Varanda de Castro
Edição: António Rocha