Imprensa alemã destaca audiência de Kenyatta, "o intocável"
10 de outubro de 2014Uhuru Kenyatta é "um Presidente que não cede a imposições", escreve esta semana o diário alemão Süddeutsche Zeitung.
O líder queniano foi esta semana a uma audiência no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, onde é acusado de crimes contra a humanidade. Kenyatta esteve na sala e ouviu a acusação queixar-se que o Governo queniano não está a disponibilizar ao tribunal registos telefónicos e bancários importantes para o processo. Uhuru Kenyatta manteve-se em silêncio e delegou todas as declarações para os seus advogados.
O Süddeutsche Zeitung conta que, durante a audiência, volta e meia, Uhuru Kenyatta "digitava algo no telemóvel". Além disso, "nem sequer estava a olhar quanto a juíza disse, pela primeira vez, o seu nome."
Kenyatta tentou ao máximo adiar a audiência em Haia. O jornal alemão diz, por exemplo, que "foi com muita relutância que o Governo queniano cumpriu a obrigação de entregar documentos aos investigadores do tribunal. Mas, segundo os investigadores, a maioria do material enviado não tinha nada a ver com o que fora pedido."
A propósito da audiência no TPI, o Tagesspiegel escreve que Kenyatta "é intocável". O jornal conta que a abertura do processo de Kenyatta foi adiada pela primeira vez há cerca de um ano, quando o centro comercial de Westgate foi atacado por militantes shebab. Desde então, sete testemunhas retiraram os seus depoimentos ou desapareceram.
A procuradora do Tribunal Penal Internacional, Fatou Bensouda, viu, com este caso, que "ninguém é suicida ao ponto de testemunhar contra um Presidente no poder", escreve o diário alemão.
Quem não arrisca...
"A economia alemã não sonha com África", conclui esta semana um artigo do Frankfurter Allgemeine Zeitung. O jornal cita um estudo de uma consultora onde fica claro que são raras as empresas alemãs que planeiam expandir-se para o continente africano. Por outro lado, os empresários alemães que já estão em África têm tido experiências positivas.
Um dos especialistas da consultora que fez o estudo, Tim Löbig, diz que "as oportunidades económicas em África continuam a ser subestimadas". Por isso, "há muitas oportunidades perdidas."
Sobre este tema, o economista-chefe do Instituto de Pesquisa do jornal alemão Handelsblatt, Dirk Heilmann, argumenta, num artigo de opinião, que "quem só vê riscos, não conquista mercados. […] Seria desastroso se a economia alemã cedesse [as oportunidades] naquele que é o continente que mais deverá crescer nas próximas décadas aos seus concorrentes da China ou dos Estados Unidos da América."
Angola e Moçambique são apontados como centros de crescimento, entre outros países africanos, incluindo a Nigéria.
Grace Mugabe na política
O Frankfurter Allgemeine Zeitung dedicou um artigo a Grace Mugabe, a mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. O jornal fala sobre a entrada de Grace para a política.
Grace aceitou recentemente a nomeação para a presidência da ala feminina do partido no poder, o ZANU-PF. O Frankfurter Allgemeine Zeitung diz que a nomeação é vista como uma mera formalidade. Assim, Grace Mugabe terá "um assento permanente no bureau político do partido e poderá exercer diretamente influência em todas as decisões".
O diário alemão nota que a entrada de Grace na política é, provavelmente, uma tentativa de estabelecer uma dinastia Mugabe. O jornal cita observadores em Harare que dizem que, talvez, o papel de Grace Mugabe seja "continuar a criar divisões no seio do partido, com a sua presença, assegurando assim ao marido a nomeação para as próximas presidenciais, em 2018. Nessa altura, Mugabe teria 94 anos."