Imprensa alemã destaca a Nigéria, Tunísia e Egito
13 de janeiro de 2012O Süddeutsche Zeitung, diário editado em Munique, publicou um vasto artigo sobre o grupo islamista "Boko Haram", intitulado "o inimigo fantasma". Passamos a citar um excerto desse mesmo artigo, de autoria do correspondente em África Arne Perras:
"O sinistro inimigo chama-se 'Boko Haram'. A seita islamista empurrou a Nigéria para o abismo, com uma série de atentados contra instituições estatais, esquadras de polícia, mesquitas e igrejas cristãs. Centenas de pessoas foram mortas no ano passado. Pela primeira vez o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, admitiu publicamente que os terroristas estão infiltrados nas próprias fileiras do governo, do parlamento e das instâncias judiciais. O 'Boko Haram' teria também apoiantes nos aparelhos da polícia, das forças armadas e dos serviços secretos. Resumindo: o Estado inteiro é refém desta sinistra seita militante."
Ainda sobre as tensões na Nigéria, o diário Tageszeitung, editado em Berlim escreve:
"A Nigéria está paralisada. Não só as tensões religiosas afetam o funcionamento normal do país. Também os aumentos dos preços dos combustíveis levaram a uma greve geral sem precedentes e a uma onda de contestação que abrange todo o país de norte a sul. Os nigerianos aderem em massa às manifestações. Os slogans anti governamentais são cada vez mais explícitos: 'Boko Haram bombardeia as cidades, o presidente Jonathan bombardeia a economia'; ou: 'Se continuar assim, os pobres deixarão de comer, apenas lhes restará comer os ricos.'. Na região de Yoruba, tradicionalmente muito tensa, formou-se um denominado movimento 'ocupy Nigeria', que acaba de publicar uma lista de dez exigências. A primeira, é que os 'corruptos sejam enforcados publicamente'."
O Frankfurter Allgemeine Zeitung, jornal editado em Frankfurt no Meno, escreve ainda sobre a situação na Nigéria:
"A violência tomou conta da Nigéria, sobretudo das regiões do Norte, onde os terroristas do Boko Haram atuam com mais frequência. Desde o último Natal perderam a vida mais de 100 pessoas, na sequência de atentados perpretados pelos islamistas. Em 2011 terão perdido a vida mais de 600 pessoas. O alvo dos ataques são sobretudo instituições cristãs. O governo mostra-se impotente, tentando restabelecer a ordem, enviando soldados para os Estados de Borno, Niger, Adamawa e Yobe."
A visita do ministro alemão ao Norte de África
Escrevendo sobre a situação no norte de África, o Süddeutsche Zeitung realça o périplo do ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, à Líbia, à Argélia e à Tunisía. Falando concretamente da Tunísia, o Süddeutsche Zeitung escreve que o ministro alemão manifestou respeito perante os partidos islâmicos moderados, que venceram as eleições naquele que é o país onde a primavera árabe terá começado. O jornal refere, nomeadamente:
"A vitória do partido islâmico Ennahda, que conquistou 41 por cento dos votos, nas eleições tunisinas, preocupou certos círculos liberais na Europa. Mas o ministro alemão salientou que essas preocupações não têm razão de ser. Segundo salientou Westerwelle em conferência de imprensa, é possivel conciliar os princípios democráticos com o Islão. O ministro tunisino dos negócios estrangeiros, Rafik Ben Abdessalem, por sua vez, assegurou que a Tunísia estaria empenhada em provar que ,de facto, a democracia moderna e o Islão não são nenhuma contradição."
Egito: islamitas moderados e fundamentalistas
O Kölner Stadtanzeiger, editado na cidade de Colónia, debruça-se sobre o Egito: Também no maior país árabe, os partidos islâmicos, mais ou menos moderados terão vencido, com larga margem, as eleições paralementares. O Kölner Stadtanzeiger comenta:
"Os partidos islamistas têm uma base muito larga em todo o país. É lógico, pois foram oprimidos durante muito tempo. E como nunca participaram nos antigos regimes, a sua imagem ainda não está afetada. Os mais radicais têm muito dinheiro, fornecido pela Arábia Saudita, dinheiro esse que é generosamente distribuido pelos mais pobres, um pouco por todo o país. Os partidos ligados à Irmandade Muçulmana, por sua vez, também têm muitos meios, postos à disposição, sobretudo, por círculos do Qatar. A questão agora é saber, qual das alas do islão irá dominar o futuro xadrez político no Egito. Serão os puritanos ou os modernizadores? E a outra questão: Será que os militares assistirão a tudo sem intervir? É esperar para vêr..."
Autor: António Cascais
Edição: António Rocha