Milhões de crianças vítimas de trabalho infantil no Uganda
11 de fevereiro de 2018São seis da manhã e há uma criança a atravessar a rua Kampala no centro da cidade com o mesmo nome. Corre em direção ao mercado de Nakasero, um dos mais populares.
"Chamo-me Bugembe Abdu Rahman e venho de Zirobwe. Não estou na escola, porque não tenho dinheiro para as propinas. Por isso vendo sacos de plástico no mercado de Nakasero a partir das cinco da manhã. Mas não estou aqui há muito tempo", diz, com vergonha.
Aos 13 anos, Bugembe é uma das muitas crianças vítimas do trabalho infantil no Uganda. No total, são mais de dois milhões o número de menores vítimas deste flagelo neste país.
Bugembe sabe que o tio não lhe dará dinheiro pela tarefa que lhe atribuiu, mas o seu sonho é voltar à escola e ser médico. Por isso prefere ajudar a família. Só regressará a casa depois das nove da noite.
O sonho de acabar a escola
A história repete-se em todo o país. No mercado de Ruti, perto de Mbarara, Collins Turyamuhaki também tem 13 anos, embora ninguém imagine que atrás desta idade está uma criança que trabalha para pagar a escola do irmão mais novo. Collins Turyamuhaki ganha a vida a embalar bananas.
"Ensaco bananas e por cada saco pagam-me 3000 ou 2000. Num dia consigo embalar três ou quatro sacos. Uso o dinheiro para comprar livros e para pagar a escola e às vezes os meus pais também me ajudam quando podem", afirma.
Mas este é só o trabalho de Collins Turyamuhaki durante a manhã. À tarde ele ajuda os clientes do mercado a carregarem as suas compras em troca de um pagamento. Mais tarde, vende fruta nas ruas de Mbarara. Apesar do ritmo do trabalho, esta criança de 13 anos tem o sonho de um dia acabar a escola.
"Eu sei que este tipo de trabalho não me vai tornar rico, por isso quero fazer dinheiro suficiente para voltar para a escola e quando terminar a escola já não voltarei para aqui", promete-se a si mesmo.
Pobreza generalizada
O Instituto de Estatística do Uganda estima que 45% das famílias vivam abaixo do limiar da pobreza. Apesar de a legislação ugandesa criminalizar o trabalho infantil, a implementação da lei está longe de ser uma realidade.
Jeremiah Kamurari é presidente do distrito de Isingiro. À DW, este governante admite que a lei é fraca e que os políticos, em busca de votos, falham em aplicá-la.
"Eu quero assegurar que nenhuma criança nesta área fará este tipo de trabalhos forçados. Todas as crianças devem ir para a escola", afirma este responsável político.
"Temos de garantir que os pais destas crianças são detidos e condenados, porque o futuro destas crianças está nas mãos deles e podem tornar-se um outro problema no futuro. Eu não permitirei que isso aconteça e lutarei contra este crime", garante.