Hospital Prisão de São Paulo atrai imprensa e curiosos
28 de setembro de 2018O Hospital Prisão de São Paulo, em Luanda, é por estes dias o centro das atenções da imprensa e de muitos cidadãos angolanos. O cineasta Mutu Muxima saiu da zona da Mutamba, na baixa da cidade, para vir observar o ambiente que se vive junto à cadeia, onde se encontram detidos "Zenú" dos Santos, antigo Presidente do Conselho de Administração do Fundo Soberano de Angola, e Augusto da Silva Tomás, ex-ministro dos Transportes.
"É a primeira vez que isso acontece, e me deixa um pouco duvidoso se vai funcionar logo de primeira. Por isso é que ainda estou cético quanto a isso, porque pode ser apenas uma questão política ou mesmo um teatro para mostrarem que a justiça está a funcionar", afirmou o cineasta.
As recentes detenções de antigos governantes, um caso inédito em Angola, trouxeram ao Hospital Prisão de São Paulo muitos populares que querem acompanhar o processo de perto. Muitos, como Mutu Muxima, pedem a condenação do antigo gestor do Fundo Soberano de Angola e do ex-ministro dos Transportes e dizem que os "novos reclusos de luxo" devem devolver o dinheiro que alegadamente desviaram.
Nos últimos dias, aumentaram as visitas a "Zenú" dos Santos e Augusto Tomás. Esta quinta-feira (27.09), o filho do ex-Presidente José Eduardo dos Santos recebeu a visita da sua mãe, de um primo e de uma tia. O pai e alguns irmãos, como Welwitschea "Tchizé" dos Santos e Isabel dos Santos, ainda não foram à cadeia.
"Tchizé" dos Santos disse temer a morte do irmão na prisão, rejeitando os "rumores" de problemas psicológicos que visam, no seu entender, a justificar um eventual suicídio. No entanto, segundo fontes dos serviços prisionais, o antigo gestor do Fundo Sobreano de Angola tem-se mantido calmo e obedece às regras da instituição.
Esta quinta-feira, foi o ex-ministro dos Transportes quem recebeu o maior número de visitas. Augusto Tomás viu amigos, a filha e a esposa, com quem ficou por mais tempo.
Populares apoiam prisões
Junto ao edifício, mesmo na presença dos familiares dos detidos, os populares não hesitam em comentar o caso em voz alta. Uma moradora da zona onde se situa a cadeia, que prefere não se identificar, considera que a detenção de "Zenú" e Augusto Tomás foi tardia.
"Está muito bom. Até chegou tarde. Trabalho há 30 anos e nem consigo comprar uma casa no Zango. Trinta anos a trabalhar e continuo a ganhar 26 mil kwanzas [cerca de 75 euros] e nem tenho onde começar a vida", lamenta.
Um dos parentes de um dos ex-governantes detidos, que não quis se identificar, mostrou a sua insatisfação aos microfones da DW África. "Não me alegro com estas detenções. Se formos a ver, todos vão ter que entrar. Até o que está lá em cima. Também não fez parte do sistema esse tempo todo?", questiona.
A imprensa continua de plantão no Hospital Prisão de São Paulo, embora o número de órgãos presentes tenha diminuído esta quinta-feira. Entretanto, alguns parentes do ex-ministro insurgiram-se contra os jornalistas que filmavam e fotografavam as entradas e saídas dos visitantes.
"Foi preocupante a altura em que disseram que iam atirar pedras, foi preocupante quando disseram que iam partir as câmaras e aconselharam-nos a procurarmos uma outra matéria para cobrir. 'Por que não vão aos hospitais onde não há medicamentos e materiais gastáveis?', gritavam os parentes. Acho que cada um dirige o seu trabalho, não são os parentes de ex-ministro regrar daqui para frente, deviam se habituar a isso porque na altura do julgamento o espetáculo será", afirmou Kina Santos, jornalista da Record TV.
José Filomeno dos Santos está detido desde segunda-feira pelo envolvimento numa transferência ilícita de 500 milhões de dólares e pela gestão no Fundo Soberano de Angola. Já o antigo ministro dos Transportes Augusto da Silva Tomás está há uma semana na prisão, por suposto envolvimento no desvio de fundos do Conselho Nacional de Carregadores.