Gâmbia: Ex-agentes dos serviços secretos condenados à morte
15 de julho de 2022A Gâmbia enviou esta semana ao mundo uma mensagem clara de que, após os 22 anos de mandato presidencial de Yahya Jammeh, a justiça e o Estado de Direito já estão a funcionar no país vizinho da Guiné-Bissau e Senegal. Foi desta forma que Abdoulie Fatty, advogado dos direitos humanos, com escritório em Banjul, reagiu a condenação à morte dos cinco antigos funcionários dos serviços secretos da Gâmbia pelo homicídio, em 2016, de um ativista e político.
"É uma mensagem realmente poderosa de que a Gâmbia está a levar a sério a responsabilidade criminal, prendendo pessoas que perpetraram violações e abusos graves contra os direitos humanos e não menos importante elementos da Agência Nacional de Inteligência que foram, de um modo geral, os principais arquitetos da brutalidade contra o povo da Gâmbia", declarou.
O ex-chefe dos serviços secretos Yankuba Badjie e quatro outros agentes de segurança, condenados à morte, foram acusados de assassínio, cumplicidade no assassínio, conspiração para cometer o crime, sequestro e falsificação de provas, entre outros.
Mas o especialista em direitos humanos Abdoulie Fatty não acredita que os cinco condenados sejam executados. "Se olharmos para onde a Gâmbia está agora em termos de práticas internacionais, e para a história da Gâmbia em relação à execução da pena de morte, isto não vai acontecer. Portanto, penso que o que aconteceria aqui seria a prisão perpétua e não a pena de morte", argumenta.
Pedidos para que Jammeh seja condenado
A sentença desta quarta-feira (13.07) considerou os cinco arguidos culpados pela morte de Ebrima Solo Sandeng, conhecido opositor político e ativista que morreu sob custódia policial em abril de 2016, após ter sido espancado e torturado. As autoridades tinham prendido o político da oposição dois dias antes, durante manifestações contra o regime de Yahya Jammeh.
Muhammad Sandeng, filho do político assassinado, ficou satisfeito com a decisão judicial. "Foram seis anos basicamente a lutar pela justiça para o meu pai, a nossa família e não só, mas também pela causa que o meu pai sempre defendeu, que é o Estado de direito e o respeito pelo direito das pessoas em toda a parte, especialmente aqui na Gâmbia", declarou.
Agora, Sandeng espera que o próprio Jammeh venha a ser condenado pelos crimes que cometeu na Gâmbia: "É evidente que a justiça o está a perseguir. E certamente, mais cedo ou mais tarde, vamos apanhá-lo. Temos esperança que um dia venha a enfrentar a justiça pelos crimes em que cometeu durante os seus 22 anos como chefe de Estado."
Em 25 de maio, o Governo da Gâmbia manifestou a vontade de processar o antigo Presidente Jammeh, 55 anos, exilado na Guiné Equatorial, pelos crimes cometidos durante o seu regime.
Além disso, em novembro de 2021, a Comissão de Verdade, Reconciliação e Reparação, criada em 2017 para investigar abusos de direitos humanos cometidos durante a presidência de Jammeh, recomendou o julgamento dos principais responsáveis pelos crimes cometidos naquela altura. Yahya Jammeh liderou Gâmbia de 1994 a 2017.