Restos mortais de Nino Vieira trasladados para Amura
16 de novembro de 2020Assassinado em 2009, em pleno exercício das funções de Presidente da República, João Bernardo Vieira foi enterrado no Cemitério Municipal de Bissau, no mesmo ano. Esta segunda-feira (16.11), depois de o Conselho de Ministros ter aprovado a proposta de trasladação apresentada pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló, Nino Vieira foi sepultado na Amura.
O ex-Presidente está agora ao lado de outros heróis da luta de libertação e ex-chefes de Estado como Malam Bacai Sanhá e Kumba Ialá, na fortaleza onde funciona o Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau.
Na cerimónia, participaram vários membros do Governo, corpo diplomático acreditado em Bissau, o Presidente de transição do Mali, que termina esta segunda-feira uma visita de trabalho à Guiné-Bissau, bem como a viúva de Nino Vieira, que recusou prestar declarações à imprensa.
"Não façamos política à volta de uma lenda"
O evento foi presidido pelo chefe de Estado guineense, que afirmou ter assumido a transladação dos restos mortais do antigo Presidente enquanto uma das figuras destacadas da luta pela independência. Uma das filhas de João Bernardo Vieira, entretanto, disse que a família não foi consultada sobre a transferência dos restos mortais do seu pai.
Em jeito de resposta, o Presidente Sissoco Embaló disse que "Nino [Vieira] é um património da Guiné-Bissau. Todos os filhos da Guiné-Bissau têm o seu pedaço daquele homem. Portanto, não pertence [só] a Isabel [viúva de Vieira] e nem aos seus filhos biológicos. Nino sou eu e ele é todos filhos da Guiné que cá estão e todo o povo africano".
"Respeitem Nino, merece respeito. Não façamos política à volta de um lendário como Nino Vieira. Fico com pena de não ter conhecido [Amílcar] Cabral, mas conheci Nino Vieira e tenho orgulho disso", apelou ainda.
Justiça em memória de Nino Vieira
Nino Vieira é um célebre combatente da liberdade da pátria e foi quem leu o texto que proclamou o estado da Guiné-Bissau, em 1973, nas matas de Madina de Boé, no leste do país. Dirigiu o estado guineense entre 1980 e 1999, para depois se exilar em Portugal, na sequência do conflito político-militar, tendo regressado à Guiné-Bissau em 2005 e vencido as presidenciais desse ano.
Esta segunda-feira, o Presidente Sissoco Embaló atribuiu-lhe o título de "Herói da Luta Armada de Liberação Nacional".
Para o analista político Jamel Handem, a trasladação dos restos mortais de Nino Vieira não devia ser prioridade:
"Antes da trasladação (dos restos mortais), o Estado deveria providenciar para que fosse feita justiça em memória de Nino Vieira. Até hoje, ninguém sabe ao certo quem foram os mandantes e executantes de Nino Vieira. Para a maioria dos guineenses, essa trasladação vai significar, simplesmente, a profanação dos restos mortais de Nino Vieira".
A "reforma" dos golpes de Estado
A 16 de novembro, assinalam-se também os 56 anos das Forças Armadas guineenses, criadas em Cassacá, no sul do país, em 1964. A cerimónia desta segunda-feira incluiu a promoção de mais de duas dezenas de militares, que passaram a patentes major e tenente coronel.
O chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Biague Na Tan, voltou a garantir o fim dos golpes de Estado na Guiné-Bissau: "Hoje, nesta tribuna, digo ao Presidente da República e a todo o povo da Guiné-Bissau que as Forças Armadas da Guiné-Bissau e os paramilitares sonharam condenar o golpe [de Estado]. Eles mesmos afirmaram que o golpe se reformou. Portanto, o que falta é dinamismo para a capacitação, para melhorarmos as nossas condições, capacitarmos as pessoas para que vão às missões da paz".