Guiné-Bissau "paradisíaca" quer ultrapassar clichés da crise
O arquipélago de Bijagós é uma das relíquias naturais da Guiné-Bissau, cujo potencial está subvalorizado. Responsáveis do Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas estiveram em Lisboa para falar desse potencial e sublinhar a necessidade de preservar aquela reserva de biosfera constituída por 88 ilhas, situadas na costa ocidental africana.
Artistas plásticos e fotógrafos retratam os Bijagós numa exposição encerrada este domingo no âmbito da Semana Cultural da Guiné-Bissau em Portugal que decorreu entre 19 e 27 deste mês.
Chegou ao fim este domingo a Semana Cultural da Guiné-Bissau, encerrada com torneio de futebol e participação de Portugal e dos cinco países lusófonos de África. No fim-de-semana anterior, a abertura desta iniciativa promovida pela Embaixada da Guiné-Bissau, em parceria com outras instituições, também juntou a comunidade guineense e convidados que partilharam com alma os momentos de música e de poesia.
Os poemas de Edson Incópté, Ernesto Dabó, Emílio Lima e Toni Tcheka, de gerações distintas, ou as canções, por exemplo, de Juca Delgado e Braima Galisa, entre outros motivos exibidos ao longo da semana, confirmaram que, na diversidade, a Guiné-Bissau é uma nação culturalmente rica.
É esta riqueza que os organizadores quiseram mostrar ao público português e não só. Referência necessária à exposição de artes plásticas e de fotografias sobre a biodiversidade da Guiné-Bissau, que reuniu no Centro Cultural da Malaposta, em Odivelas, perto de Lisboa, trabalhos diversos, por exemplo de Maio Copé, Irmãos Unidos, Michel Té, Tchudá e João Carlos Barros.
A mostra exibe em quatro telas de tamanho maior alguns aspetos pitorescos das áreas protegidas do arquipélago dos Bijagós. Trata-se de um património natural a preservar, assim como é necessário preservar os valores da cultura guineense.
"E também temos que aproveitar a riqueza que nós temos, que é a riqueza cultura. Hoje em dia, fala-se de Guiné por tudo. Nós temos que falar da Guiné positiva. Quando falamos da Guiné positiva, isso só nos dá alegria", disse Edmilson dos Santos, da comissão organizadora.
"Todos os guineenses aqui na diáspora são embaixadores da Guiné", acrescentou dos Santos. "As pessoas apreciam com vontade de ajudar, com vontade de comentar e de ver a Semana. As pessoas reconheceram o trabalho que foi feito e que a cultura neste momento é a parte que nos une".
Um paraíso, "muito mais que os militares"
Já Flaviano Mindelo, declamador de poesia, usa a força das palavras para exortar a uma maior atenção aos Bijagós, "que é para, finalmente, aquilo começar a ser explorado, porque aquilo é um patrimônio mundial. E é bom que a humanidade desfrute de alguma maneira, direta ou indiretamente. Organizamos esta semana cultural para mostrar a Portugal e ao mundo que a Guiné[-Bissau] tem muito mais do que os militares", afirmou Mindelo, ao lembrar a atual situação de crise política do país ocidental africano, desencadeada pelo golpe militar de Estado de abril de 2012.
Na exposição, também há fotografias de Paula Tábuas, que, depois de uma viagem a Bissau, retrata sobretudo a vida, a história e a simplicidade das pessoas. Esta portuguesa que está a fazer mestrado em fotografia pensa voltar ao país para novas descobertas, incluindo as ilhas dos Bijagós.
"Não só Bijagós. A Guiné-Bissau é apaixonante", afirmou a fotógrafa. "O país mantém-se ainda num estado bastante puro, mas há sempre essa necessidade de chegar e procurar mais. Estivemos na ponte Amílcar Cabral e não avançamos. E gostaríamos de avançar e abranger outras áreas, porque é de pureza que precisa de ser registada. É preciso mostrar ao mundo que a Guiné-Bissau é um paraíso a ser também trabalhado e desenvolvido", avaliou.
Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Renate Krieger/António Rocha