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Liberdade de imprensaGuiné-Bissau

"Globalmente não há jornalismo na Guiné-Bissau"

Iancuba Dansó
3 de setembro de 2024

Bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau disse que não se pratica jornalismo no país devido ao clima tenso no terreno e que os jornalistas têm medo de enfrentar o PR. António Nhaga fala em ambiente difícil.

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António Nhaga, Bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau
António Nhaga, Bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-BissauFoto: privat

Além de agressões verbais e físicas contra os jornalistas, por parte das autoridades guineenses, houve recentemente um choque público do Presidente Umaro Sissoco Embaló contra vários profissionais de comunicação social.

Após uma audiência com o novo ministro da Comunicação Social da Guiné-Bissau, Florentino Fernando Dias, esta segunda-feira (02.09), o Bastonário da Ordem dos Jornalistas, António Nhaga, disse à DW que foi transmitir ao governante as preocupações da entidade sobre a situação da imprensa.

DW África: Qual é a preocupação da ordem em relação à situação dos Jornalistas na Guiné-Bissau?

António Nhaga (AN): Estamos bastante preocupados com esta situação [da imprensa guineense]. Fomos cumprimentar o novo ministro da Comunicação Social e explicar-lhe detalhadamente o que queremos para que haja um jornalismo transparente e de qualidade. Que o Governo não resuma a sua atuação em cobrar as taxas aos órgãos de comunicação social, mas também que os subvencione. 

DW África: Desta audiência, quais foram as garantias do ministro em relação aos homens da imprensa?

(AN): Ele garantiu que está disponível em trabalhar connosco e nós também mostramos que estamos interessados nisso e no sentido de melhorar o jornalismo. Mostramos-lhe que o jornalismo é um ato de democracia e sem a imprensa não há democracia. Pelo menos o ministro mostrou-nos que está recetivo à situação e agora esperamos que ele faça alguma coisa. 

DW: Há condições neste momento para o livre exercício jornalístico na Guiné-Bissau?

(AN): Não há. E é exatamente isso que estamos a pedir, que haja o livre exercício das atividades dos jornalistas na Guiné-Bissau, com transparência e qualidade. Nós apresentamos uma proposta de saída para a situação. Que haja um 'modelo de negócio' e uma forma para subvencionar a imprensa para que tenha dinheiro e possa trabalhar. 

DW África: Como analisa a situação da imprensa e o exercício profissional dos jornalistas na Guiné-Bissau? 

(AN): Globalmente não há jornalismo na Guiné-Bissau, porque, de facto, o Estado e os partidos políticos não deixaram funcionar a imprensa. Numa conversa com os jornalistas mais jovens, notei que têm medo. Aliás, na prática as pessoas têm medo do Presidente da República. A situação da jornalista Indira Correia Baldé [expulsa de uma atividade do Governo] agravou ainda mais a situação. O país, de forma geral, não tem nada de democracia. 

O Presidente Umaro Sissoco Embaló tem intimidado e humilhado publicamente os jornalistas
O Presidente Umaro Sissoco Embaló tem intimidado e humilhado publicamente os jornalistasFoto: João Carlos/DW

DW África: Referiu há instantes do medo que os jornalistas têm do Presidente da República. Há alguma forma de mudar esta realidade? 

(AN): Esta é a grande questão que se coloca, sobretudo como é que nós podemos trabalhar. Mas seria um trabalho para mentalizar os jornalistas, através da formação. De facto, o último episódio no Ministério da Educação [no dia 31 de julho], em que a polícia tentou atropelar jornalistas, e depois com o cenário de Indira Correia Baldé no hotel, os jornalistas foram transformados agora em bicho de sete cabeças. 

Tenho a sensação de que as famílias começaram a aconselhar os jovens jornalistas para não se meterem com o Presidente da República, porque, de facto, as pessoas começam a ter medo e aquilo que aconteceu com a Indira Correia Baldé é um exemplo disso. Os jovens jornalistas estão a ter medo pela própria vida. Agora tenho visto que eles chegam a um evento, colocam o gravador, não fazem nenhuma pergunta e depois vão embora. Quer dizer que o jornalista já não pode perguntar e infelizmente é nesta situação que estamos, em que os próprios jornalistas têm medo do Presidente da República.

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