Guiné-Bissau: Dirigente do PAIGC continua detido
22 de junho de 2020O dirigente do PAIGC vai continuar na prisão do Ministério do Interior, pelo menos, até esta terça-feira. Armando Correia Dias, vulgarmente conhecido por N´dinho, detido no sábado (20.06) em Bissau pelas forças de segurança, compareceu esta segunda-feira (22.06) ao Ministério Público, mas a sessão de audição não se realizou, anunciou à saída da Procuradoria-Geral da República o advogado de defesa, Suleimane Cassamá.
"Não foram ouvidos porque o sorteio calhou a um magistrado, que por sinal é coordenador da vara crime do Ministério Público, e acontece que este magistrado veio cá de manhã informar ao MP que está doente. E ainda assim o cartório fez sorteio sem retirar esse magistrado da lista e o sorteio acabou por escolher exatamente quem está doente e indisponível", explicou o advogado.
Indignação
Suleimane Cassamá não esconde a sua indignação perante aquilo que chama de "violação da lei e sequestro": "Os magistrados estão a trabalhar, mas o processo calha a quem não está cá. Isto no mínimo é estranho".
"Temos que manifestar a nossa indignação, a nossa tristeza pela forma como a justiça está a ser tratada", continua Cassamá, que admite: "Estamos até, de facto, envergonhados pela forma como o nosso constituinte está a ser devolvido ao Ministério do Interior para passar mais 24 horas na prisão. Considerando, sobretudo, que ele fora sequestrado no sábado. O crime continua, a violação da lei continua e bem como sequestro".
A Liga Guineense dos Direitos Humanos, pela voz do seu presidente, Augusto Mário da Silva, diz que N´dinho aparamente não foi torturado e que aparentemente passa bem.
"Ele teve acesso à assistência médica e disse-nos que não há nada assim de preocupante, que recebeu toda a assistência necessária. Relativamente ao estado da prisão, como todos sabem, as celas não têm condições. Procuraram dar-lhe as melhores condições. O seu estado emocional está um bocadinho abalado com a detenção", relatou Augusto Mário da Silva.
Detenção
Em conferência de imprensa esta segunda-feira (22.06), o porta-voz do Ministério do Interior, Salvador Soares, explicou os contornos da detenção, no sábado (20.06), em Bissau, do empresário que é membro do Comité Central do PAIGC.
"O cidadão Armando Correia Dias, segundo o consta no relatório do departamento de investigação criminal, foi suspeito de movimentação com armas de fogo meramente militar. De acordo ainda com a mesma informação, depois de três dias de seguimento operativo, finalmente no dia 20 do corrente mês foi intercetado numa viatura. Dentro do carro foi encontrado duas AK-M, com 4 carregadores e uma arma branca, facto que obrigou a sua detenção preventiva do Ndinho para averiguar a proveniência das armas, motivo do seu uso e porte".
A polícia guineense anunciou também detenção do irmão do empresário por alegadamente proferir injurias contra as forças de ordem. Armando Correia Dias foi detido quando estava acompanhado do antigo secretário de Estado, Anaximandro Zylene Casimiro Menut, e do deputado Wasna Papai Danfa. Os três seguiam na viatura do secretário de Estado, que acusou um civil, que estava acompanhado da polícia, de ter colocado as armas no interior do seu veículo.
Ação das forças de segurança
Questionado sobre a denuncia do PAIGC de que foram os próprios agentes de segurança que terão introduzido as armas no carro para forçar a detenção do dirigente do partido, o porta-voz do Ministério do Interior disse: "Isso não cabe a mim, sou apenas o porta-voz do ministério do Interior. Não posso responder isso. Há um serviço competente para tal".
O deputado guineense Wasna Papai Danfa questionou também as razões pelas quais as forças de segurança só detiveram N'Dinho, quando estavam os três na viatura. O dirigente político deverá comparecer esta terça-feira a tribunal, novamente.
Entretanto, num comunicado divulgado na tarde desta segunda-feira, o Parlamento guineense repudiou "os sistemáticos atos de agressão física, coação e privação da liberdade aos cidadãos guineenses", bem como exigiu o "cabal esclarecimento do Governo, através do Ministério do Interior, sobre as intervenções das forças policiais".
O Parlamento guineense também exigiu a abertura de um inquérito para o "apuramento das circunstâncias em que ocorrem" tais intervenções, "os seus autores materiais e morais".