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Guineenses sofrem consequências do embarque forçado de sírios para Lisboa

Braima Darame / Bettina Riffel14 de fevereiro de 2014

Dois meses depois de um grupo de sírios na Guiné-Bissau ter sido obrigado a voar para Portugal e a TAP ter cancelado os voos entre os países, a população pena com o transporte aéreo restrito, inclusive de medicamentos.

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Foto: picture-alliance/dpa

Recorda-se do caso dos mais de 70 sírios forçados a embarcar à força num voo da TAP de Bissau para Lisboa com passaporte falso? Depois do ocorrido, que foi apelidado como “caso sírios”, as autoridades de Bissau deixaram de falar sobre o tema. Uma decisão que acabou resultando na suspensão dos voos da companhia aérea portuguesa TAP para a Guiné-Bissau. Dois meses depois do acontecido, pouco ou nada foi feito em Bissau para apurar de quem foi a responsabilidade.

As relações diplomáticas entre o Governo de Transição da Guiné-Bissau e as autoridades portuguesas estão abaladas. Perante um mar de dúvidas levantadas sobre o que realmente se passou, sabe-se apenas que a transportadora portuguesa deixou de voar para a capital guineense. Este voo era a única ligação aérea direta que existia do país para a Europa. A decisão de não voar mais deixou milhares de guineenses em dificuldades.

Antonio Suca Ntchama
Ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Fernando Delfim da Silva, pediu demissãoFoto: Braima Darame

A situação está a prejudicar o dia a dia dos guineenses, que deixaram de ter correio e outros serviços logísticos para o resto do mundo, como o transporte de medicamentos. Todas as cartas e encomendas com todo o tipo de material circulavam entre Bissau e Lisboa nos três voos semanais da TAP.

Ministério Pública sem força

Tudo aconteceu a 10 de dezembro de 2013. De lá para cá, quase nada foi feito para responsabilizar os acusados. O Governo da Guiné-Bissau criou uma comissão de investigação que apurou apenas que o ministro do Interior demissionário, mas ainda no poder, António Suca Ntchama, um oficial militar, seria o principal responsável pelo embarque dos mais 70 sírios sem passaporte à Portugal.

Na ocasião, o Ministério Público ordenou à Polícia Judiciária que N´tchama seja detido. Mas a missão não foi cumprida até hoje por este ter-se recusado à detenção, segundo fontes da Procuradoria Geral da República.

Durante todo o mês do janeiro (2014) não houve nenhuma evolução do caso. Os envolvidos recusam-se a abordar o caso na imprensa. O procurador-geral da República guineense, Abdú Mané, não dá entrevistas porque estar a ser alvo de perseguição e ameaça de morte. O suspeito Ntchama também não quer falar sob a justificativa de segredo de justiça. Na opinião do analista Rui Landim, o "caso sírios” já foi enterrado.

Em entrevista à DW África, ele disse que assim como aconteceu com tantos outros casos na Guiné-Bissau, inclusive de assassinatos, está ocorrendo também neste processo. "Não se faz nada. Na Guiné-Bissau, todos praticam atos com garantia de impunidade", explica o analista.

Fernando Delfim da Silva
António Suca Ntchama seria o principal responsávelFoto: DW/B. Darame

Acusado quer ganhar tempo

O silêncio que reina à volta do caso, sob a alegação do segredo de justiça, é um simples disfarce para que o tema saia da opinião pública e só vem confirmar a impunidade que reina no país, observa ainda o analista. É como uma peça de teatro, diz ele, "cada um faz o seu papel".

O procurador-geral da República revelou à DW África que continua a ser perseguido e ameaçado por estar a investigar o caso. Abdú Mané pediu proteção à Força de Manutenção da Paz da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) estacionada em Bissau.

Ninguém quer falar

O incidente guineense com a TAP parece ter passado a ser assunto "tabu" em Bissau. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Delfim da Silva, apresentou a demissão depois de se afirmar revoltado com o caso.

No entanto, ele continua a exercer seu trabalho porque ninguém ainda tomou qualquer providência quando a seu pedido. O encerramento dos três voos diretos semanais entre a Guiné-Bissau e a Europa, feitos pela TAP, foi justificado pela grave falha de segurança que foi igualmente censurada pela Alta Representante da União Europeia, Catherine Ashton.

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