Guiné-Bissau: "Tudo pode acontecer" nas presidenciais
22 de novembro de 2019Durante os 21 dias de campanha eleitoral, os 12 homens que ambicionam a Presidência da República guineense fizeram muitas promessas, trocaram acusações e até houve ataques pessoais. Dois grandes temas que marcaram a campanha foi a possibilidade de revisão da Constituição, para aumentar os poderes do Presidente, e a mediação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) na crise política guineense.
Alguns candidatos classificam a intervenção da organização como "ingerência" nos assuntos internos do país, outros encaram isso como algo normal, tendo em conta que a Guiné-Bissau é membro da CEDEAO.
Apesar das divergências, a campanha foi pacífica. Não houve qualquer incidente de destaque. Um estudante universitário ouvido pela DW África nas ruas de Bissau espera que o clima continue assim nos próximos dias: "Espero que sejam eleições que corram de uma forma ordeira e que vença o candidato que possa, efetivamente, ajudar o país a sair deste marasmo".
"Devemos ajudar para que as eleições possam correr bem", acrescenta uma vendedeira. "Que cada um vá com a sua consciência e vote tranquilamente. É isso que espero que acontença nessas eleições", afirma outro cidadão.
CNE diz que está tudo a postos
Esta sexta-feira (22.11), numa mensagem aos mais de 700 mil eleitores chamados a escolher o futuro chefe de Estado, o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), José Pedro Sambú, disse esperar que a democracia guineense seja "reforçada" e "valorizada" no domingo.
Sambú assegurou que está tudo a postos para a votação: "Quero-vos tranquilizar de que estão reunidas todas as condições logísticas, humanas e técnicas, tanto ao nível das Comissões Regionais de Eleições, como na diáspora, para que as eleições possam decorrer num clima de tranquilidade, sem qualquer sobressalto. O universo de eleitores para o dia 24, é de 761.676."
Analista: "Haverá sempre alguém a reclamar"
Em relação ao possível resultado das presidenciais, o analista político Luís Vaz Martins diz que "tudo pode acontecer" - poderá haver um vencedor logo à primeira volta ou, então, passar-se a uma segunda volta.
"Às vezes, quando estamos convictos que a decisão do pleito popular será numa direção, aparecem-nos surpresas, como aconteceu nas últimas legislativas, em que ninguém esperava que o MADEM-G15 [Movimento para a Alternância Democrática, o maior partido da oposição] tivesse os resultados que conseguiu. Mas estamos a falar das eleições presidenciais, onde o cenário é relativamente diferente", ressalva.
O analista suspeita, no entanto, que alguns candidatos derrotados no escrutínio de domingo podem não aceitar os resultados.
"Toda a dinâmica em torno deste processo mostrou-nos que não haverá um espírito de 'fair-play'. Independentemente dos resultados, haverá sempre alguém a reclamar", acredita Martins, e as razões terão a ver com a falta de preparação ou "porque não conseguiram angariar todo o apoio necessário para levar à frente a máquina da campanha".
Doze candidatos concorrem à Presidência guineense, incluindo o chefe de Estado cessante, José Mário Vaz. O MADEM-G15 apoia Umaro Sissoco Embaló. E Domingos Simões Pereira é o candidato do partido no poder, o Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC).
Para as eleições de domingo, estão na Guiné-Bissau, de acordo com as informações disponíveis, 23 observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 54 da União Africana, 60 da CEDEAO e 47 dos Estados Unidos da América.