Guiné-Bissau: Raptos são tentativa de intimidar cidadãos
7 de julho de 2022A onda de raptos e espancamentos na Guiné-Bissau começou em 2020. Há três meses que não se verificava um caso, quando foi sequestrada, na noite de terça-feira (05.07) a filha de Fulo Só, ativista do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), atualmente na oposição.
O caso ocorreu num dos bairros da capital, Bissau. A vítima de 19 anos foi encontrada inconsciente no centro da cidade no início da tarde de quarta-feira, no centro da cidade, tendo recebido assistência médica no Hospital Nacional Simão Mendes (HNSM), por apresentar alguns ferimentos.
O vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Bubacar Turé, considera que a Guiné-Bissau se está a transformar numa "república de milícias", marcada pela desordem, anarquia e ataques contra as liberdades fundamentais.
Atentado às liberdades fundamentais
"Para nós é uma constatação triste. E se as medidas urgentes não forem tomadas para corrigir este cenário, a Guiné-Bissau correrá o risco de cair no abismo, com consequências imprevisíveis", disse Turé à DW África.
Nos casos de rapto anteriores, os sequestradores nunca exigiram resgate. Nesta última ocorrência, no entanto, os criminosos exigiram que o pai da vítima, que reside no estrangeiro, se entregasse às autoridades do país, avançou a LDGH.
"Estes ataques, esta onda de sequestros, raptos e espancamentos dos cidadãos não passam de uma estratégia de intimidar e chantagear os cidadãos", disse ainda Turé, explicando que os atos são dirigidos contra cidadãos que ousam criticar o regime e insistem em "exercer as suas liberdades fundamentais asseguradas pela Constituição da República".
Urge identificar os criminosos
O pai da jovem raptada, Fulo Só, é defensor, nas redes sociais, do PAIGC, e crítico aberto do atual regime guineense.
Apesar do sequestro da filha, Só deixou uma garantia:
"Ninguém me pode parar e nem chantagear", escreveu, afirmando as tentativas de intimidação só lhe dão "mais coragem".
O sociólogo Infali Donque lembrou que os raptos agora recorrentes eram estranhos à sociedade: "Por isso é importante identificar essas pessoas, para acalmar a sociedade".
No passado foram vítimas de raptos e espancamentos um deputado da nação, jornalista, ativistas políticos e um advogado.
A DW África tentou, sem sucesso, obter a reação do Ministério do Interior sobre o mais recente caso.