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Guerra e ébola: Dupla ameaça no nordeste da RDC

Linda Staude | AFP | ac
8 de setembro de 2018

O nordeste da República Democrática do Congo tem vindo a ser afetado por violentas guerras civis e étnicas. Como se não bastasse, a mesma região foi também afetada por um surto de ébola.

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Deslocados internos em BuniaFoto: Getty Images/AFP/J. Wessels

O Conselho de Segurança das Nações Unidas lançou o alerta para o risco que o surto de ébola na República Democrática do Congo (RDC) representa para a população do país e também para a estabilidade em toda a região. 

O Conselho de Segurança apelou para que fosse garantido o acesso do pessoal humanitário e médico a todas as áreas do país, em segurança e sem impedimentos.

A cidade de Bunia, no nordeste da RDC, é uma das zonas afetadas duplamente no país: tanto pela guerra civil, como pelo perigo de propagação do vírus do ébola.

Perto da cidade está um campo de refugiados sobrelotado. Centenas de milhares de pessoas vegetam aqui, depois de terem fugido das suas aldeias. São vítimas da cruel guerra civil que se trava nesta região. Tiveram que abandonar as suas casas. Agora, vivem em tendas e dependem de ajuda alimentar.

Além disso, teme-se que o vírus do ébola atinja o campo, depois de terem sido detetados vários casos na região. 

Confrontos sem fim

"Vim para cá porque a nossa aldeia foi incendiada. Deixou de ser possível viver na nossa aldeia, pois a minha própria casa também ardeu", conta Jean-Pierre, um refugiado da província de Ituri, onde se registaram vários ataques na sequência dos confrontos armados entre as etnias Lendu und Hema.

Serge Lonema responsabiliza o Governo pelos confrontos, que parecem não acabar. As forças governamentais não se têm mostrado capazes de apaziguar as partes, afirma Serge: "Não confiamos nas autoridades. Quando pessoas pertencentes à etnia Hema foram massacradas, os soldados e a policia nada fizeram para conter a violência".

Guerra e ébola: Dupla ameaça no nordeste da RDC

Há quem diga mesmo que o próprio Presidente Joseph Kabila contribuiu para que o conflito se agudizasse, pois estaria interessado em distúrbios e instabilidade, para impedir a realização das eleições.

O mandato de Kabila terminou em 2016, mas novas eleições foram várias vezes adiadas. Entretanto, Kabila confirmou que iria respeitar a Constituição e retirou-se da corrida a um novo mandato, proibido por lei.

A decisão não terá sido voluntária, segundo observadores. Os Estados Unidos, mas também países vizinhos como Angola, terão pressionado Kabila para se retirar, como manda a lei. O delfim escolhido por Kabila chama-se Emmanuel Ramazani Shadary, que, na qualidade de ministro do Interior, terá sido responsável por inúmeras violações dos direitos humanos, sobretudo no nordeste do país.

Ébola continua a matar

Os problemas parecem não ter fim também na província do Kivu Norte, onde as autoridades sanitárias lutam contra um novo surto de ébola.

De acordo com dados fornecidos pela RDC, o surto provocou até ao momento 88 mortes e a doença já chegou à cidade de Butembo, um importante centro de comércio na região, com cerca de um milhão de habitantes.

Os primeiros casos confirmados em Butembo eram os de uma mulher e de um dos profissionais de saúde envolvidos no seu tratamento. A mulher morreu na quinta-feira (6.09), depois de fugir da cidade vizinha de Beni e "recusado cooperar com as autoridades de saúde depois de contrair a doença”, diz o Ministério da Saúde.

Este é o segundo mais recente surto de ébola na RDC, após o que ocorreu na província de Equador (noroeste), num país onde a doença é endémica, mas nunca tinha afetado duas áreas em conflito como atualmente.