Etiópia rejeita oferta de cessar-fogo de separatistas
22 de dezembro de 2021"Cessar-fogo de quem? Essa é a questão", questionou a porta-voz Billene Seyoum numa conferência de imprensa em Adis Abeba, na terça-feira (21.12). "O Governo já se comprometeu a um cessar-fogo" em junho, mas a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF) referiu-se ao gesto como sendo "uma piada de mau gosto", explicou.
O líder da TPLF, Debretsion Gebremicheal, ofereceu uma "cessação imediata das hostilidades", numa carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, datada de domingo (19.12) e tornada pública na segunda-feira (20.12).
Debretsion anunciou também a retirada para Tigray das suas tropas posicionadas noutras regiões do país, tais como os vizinhos Afar e Amhara, uma das condições do Governo etíope para negociações com vista a uma solução pacífica do conflito.
"Não sei como uma entidade ilegítima pode enviar tal carta a um organismo da ONU", declarou hoje Billene, cujo Governo considera a TPLF uma organização terrorista.
Solução política passa por diálogo
"Qualquer solução política centrar-se-á sempre na justiça e na responsabilização e também no diálogo", disse, observando que os termos desse diálogo seriam apresentados "no devido tempo".
Segundo a porta-voz, o Governo federal "tem a obrigação de manter a paz para assegurar a integridade territorial e as operações das diferentes forças federais assegurarão a manutenção da integridade do país", acrescentando que "a TPLF já não é uma ameaça para a estabilidade da Etiópia".
De facto, a porta-voz disse que o exército etíope e as suas forças aliadas estão na "fase final" da expulsão dos restantes "elementos" dos rebeldes em Afar e Amhara, apesar do anúncio de Debretsion de uma retirada.
Conflito prolonga-se desde 2020
A guerra começou em 4 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou um ataque à TPLF, no poder em Tigray, como retaliação a um ataque a uma base militar federal e na sequência de uma escalada de tensões políticas.
Desde o final de outubro deste ano, a TPLF conseguiu avançar as suas posições para sul e ameaçou marchar sobre a capital, Adis Abeba, que é também a sede da União Africana.
Os receios de que os rebeldes pudessem atacar a capital da Etiópia levaram a esforços diplomáticos por parte da comunidade internacional para procurar uma solução pacífica.
Milhares de pessoas morreram e cerca de dois milhões foram forçadas a fugir das suas casas em Tigray por causa do conflito, de acordo com a ONU.