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Governo de transição guineense aposta em balanço positivo

27 de junho de 2012

Um mês após assumir o governo na Guiné-Bissau, após o golpe de Estado no país, o governo de transição, na voz do ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Fernando Vaz, dá a entender que colocou "ordem na casa".

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Foto: picture-alliance/dpa

Depois da Guiné-Bissau ter sofrido um golpe de Estado este ano, em 12 de abril, o país está a ser dirigido por um governo de transição, que no último dia 22 de junho completou o primeiro mês de gestão.

Por ocasião desta data, a DW África conseguiu uma entrevista exclusiva com Fernando Vaz, ministro da Presidência do Conselho de Ministros. Ele anunciou também uma conferência de imprensa, em Bissau, para esta quinta-feira (30.06), para fazer um balanço do governo de transição.

DW África: Qual é o seu balanço dos últimos tempos na Guiné-Bissau?

Fernando Vaz (FV): Aquilo que marcava Carlos Gomes Júnior [o primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau] era pagar os salários mensalmente, a tempo e hora. Este governo de transição fez num mês aquilo que o Carlos Gomes fez em três. Ou seja, num mês, nós pagamos três meses de salário. E ainda pagamos a metade da dívida que o Estado tem com os professores, com cinco meses de salário atrasado. Conseguimos com que os militares fossem para os quartéis e arredassem completamente da vida política e civil do país.

DW África: Mas ainda assim, a situação da Guiné-Bissau não é das melhores.

FV: É um país que depende completamente do exterior. Mas isso são questões estruturais e espero que não tenham a pretensão de que em um ano nós resolveremos esta questão. Nem é esta a nossa proposta. Queremos criar condições para que haja eleições livres, justas e transparentes e para que a justiça comece finalmente a imperar neste país.

DW África: Uma das últimas decisões tomadas pelo Conselho de Ministros da Guiné-Bissau foi dar um destino aos dois aviões apreendidos no combate ao narcotráfico.

FV: É incompreensível que os dois aviões apreendidos estavam parados há mais de seis ou sete anos, uma vez que a nossa costa não é fiscalizada por falta de instrumentos. Tendo esses dois aviões disponíveis, resolvemos colocar um deles à venda em hasta pública e o outro, usar para o combate ao narcotráfico, nomeadamente na fiscalização da nossa costa e não só.

DW África: O avião que foi posto em hasta pública já tem comprador?

FV: Há uma proposta que está sendo analisada pelo ministro das Finanças . Mas não estou muito por dentro deste assunto.

DW África: Quem vai representar a Guiné-Bissau na próxima cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), uma vez que Carlos Gomes Júnior disse ser o representante do governo legítimo?

FV: Hoje temos dois países. O "real" e aquele que Carlos Gomes Júnior governa. O governo de transição governa o país "real".

DW África: Um país que a CPLP, a União Europeia e algumas outras nações não reconhecem.

FV: Para nós, a CPLP é uma comunidade linguística e não política. A CPLP faz mais do que deveria fazer. Vejam bem o estatuto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e com certeza vão me dar razão. Porque o que não querem entender é que a comunidade internacional e as Nações Unidas mandatam a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Países da África Ocidental, no caso do problema guineense, para encontrar soluções. Uma parte da comunidade internacional entende que a Guiné-Bissau são apenas duas ou três pessoas. Nós entendemos que as pessoas são livres de opinar e ter a sua consciência.

DW África: Então a Guiné-Bissau não se encontra isolada no plano diplomático internacional?

FV: Evidente que não. Quem acompanhou sabe que nosso governo foi reconhecido pelos Estados Unidos. Se a primeira potência do mundo reconhece se estamos isolados, pergunto-lhe eu.

DW África: Mas os Estados Unidos tem o antigo chefe da marinha, Bubo Na Tchuto, inscrito na lista dos que considera "barões da droga" da Guiné-Bissau. E o governo de transição acaba de libertar Bubo Na Tchuto.

FV: O governo de transição não liberta ninguém. Nosso governo não tem nada a ver com o poder judicial .

DW África: Acredita que é possível voltar a existir uma cooperação entre a Guiné-Bissau e Angola depois das tropas angolanas (Missang) terem sido "expulsas" da Guiné-Bissau após o golpe de Estado?

FV: Acredito que sim. Porque no início, Angola criou uma estrutura para o MPLA [partido no poder] e fez a luta que fez. Mesmo após o 25 de abril de 1974, a Guiné-Bissau deu um contributo extremamente grande a Angola enviando veículos de guerra, os primeiros que entraram em Angola. E o governo angolano não tem memória curta.

Ontem fomos parceiros contra o colonialismo português. Hoje, temos ideais diferentes sobre a cooperação militar. Aquilo que aconteceu na Guiné-Bissau foi a instrumentalização do governo de Angola por Carlos Gomes Júnior. E esta instrumentalização conduziu a contradição que levou ao golpe de Estado do 12 de abril de 2012.

Todos sabiam e previam, de fato, o que acontecia na Guiné-Bissau, com carros e tanques de guerra e armamento pesado, o que era inevitável. Face ao orgulho guineense e àquilo que são as nossas forças armadas e as forças armadas em transformação, que desde 74 foram esquecidas, continuam com aquela mentalidade não das forças armadas republicanas mas de forças armadas independentistas, que trouxeram a independência à Guiné-Bissau.

Elas deveriam ser tratadas de outra forma, com mais respeito e dignidade, para que hoje não estivéssemos em meio a um golpe de Estado, coisa que ninguém aprova e todos nós condenamos. Golpes de Estado só trazem a instabilidade permanente a este país.

Acreditamos que este tenha sido o último golpe de Estado na Guiné-Bissau e que eles tenham a consciência de que não é com golpe de Estado que se resolve o problema da Guiné-Bissau. É preciso sentarmo-nos todos, inclusive Carlos Gomes Júnior e outros parceiros, para encontrarmos uma solução viável para este país.

Autor: António Rocha
Edição: Renate Krieger

26.06 NEU Guiné Bissau - Entrev. Fernando Vaz - MP3-Mono