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Governadora de Manica aperta cerco aos médicos grevistas

Bernardo Jequete (Manica)
12 de agosto de 2023

Governadora de Manica ordenou a instauração de processos disciplinares contra o pessoal dos serviços de saúde que aderiu à greve dos médicos. Profissionais pedem aumentos salariais e reivindicam mais condições laborais.

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Foto de arquivo (agosto de 2023)Foto: Romeu da Silva/DW

Durante a sessão extraordinária do coletivo de Direção Provincial de Saúde, a governadora de Manica, Francisca Tomás, disse não fazer sentido que profissionais que juraram tratar com dignidade a população sejam os mesmos a abandoná-los por alegadas reivindicações.

"A nossa população precisa de ser servida, a nossa população não tem culpa de qualquer dos interesses pessoais [dos médicos]. Queremos apelar a todos para que se façam presentes ao serviço", disse.

Para o porta-voz da Associação Médica de Moçambique (AMM), Henriques Viola, a governante devia pautar-se pelo diálogo, visando a busca de soluções para os problemas colocados à mesa, e não intimidar os médicos que estão em greve.

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Henriques Viola, porta-voz da Associação Médica de MoçambiqueFoto: Romeu da Silva/DW

"A tentativa de instaurar processos disciplinares e marcação de faltas, e ameaças acima de tudo, não abona a conduta inicial e deveres do servidor público. Ela como governadora devia ser a primeira a apelar ao diálogo para encontrar as soluções", comentou.

Sanções disciplinares são discutíveis

Para André Júnior, da Ordem dos Advogados, as sanções disciplinares pressupõem a verificação de uma infração disciplinar ou a violação dos deveres laborais.

"Não havendo esses pressupostos não haverá obviamente um processo disciplinar, porque me parece no caso em concreto que todos os procedimentos foram seguidos, as comunicações foram feitas, o caderno de reivindicações foi apresentado", referiu. 

André Júnior - mosambikanische Juris
André Júnior, juristaFoto: Bernardo Jequete/DW

Para o sociólogo Abílio Mandlate, a greve dos médicos está a colocar em causa a confiança dos cidadãos no sistema de saúde do país.

"Mesmo bem antes da greve as pessoas já não tinham boa percepção sobre o sistema nacional de saúde e olhavam para ele como se fosse algo problemático, dadas as dificuldades que as pessoas enfrentavam para ter atendimento, tratamento e alcançar a cura das enfermidades", afirmou.

"Com a greve dos médicos essa percepção só piora justamente porque temos hoje hospitais a funcionarem a meio-gás", critica. "Então a confiança dos cidadãos em relação ao sistema nacional de saúde está a esvaziar-se, está a evaporar", admitiu.

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