Golpe militar no Burkina Faso com ligações ao ex-Presidente
17 de setembro de 2015
Observadores notam que este golpe militar, que ocorre a menos de um mês das eleições presidencial e legislativas previstas para 11 de outubro, coloca termo às esperanças de uma transição política pacífica no Burkina Faso.
O país da África Ocidental era dirigido pelo Presidente de transição, Michel Kafando, e pelo seu primeiro-ministro, Isaac Zida, depois de o ex-Presidente Blaise Compaoré ter sido deposto pela vaga de manifestações que ocorreram em outubro do ano transato.
O golpe militar foi dirigido pelo general Gilbert Diendéré, antigo chefe do Estado-maior do ex-chefe de Estado Blaise Compaoré, que esteve 27 anos no poder. O líder golpista já garantiu contudo não ter tido qualquer contacto com o antigo Presidente.
O novo homem forte do país é portanto Gilbert Diendéré, que lidera o Conselho Nacional para a Democracia, o novo Governo instituído pelos militares que derrubaram as autoridades de transição no Burkina Faso.
Militares insatisfeitos com Governo de transição
Segundo a imprensa internacional, o líder do golpe justificou a ação devido à uma grave situação de insegurança pré-eleitoral. Dienderé anunciou que "medidas de exclusão foram tomadas pelas autoridades da transição" e que "foi por isso que os seus homens passaram à ação".
“Um Conselho Nacional da Democracia decidiu colocar fim ao regime desviante da transição e o Presidente de transição foi demitido das suas funções. A medida deve-se ao facto de o regime se ter afastado progressivamente dos objetivos de uma democracia consensual”, justificou, na televisão nacional, o tenente-coronel Mamadou Bamba, que participou no golpe militar.
Situação poderá complicar-se mais
Pouco crente na justificação dos militares para o golpe está Oschibibi Johann, ativista pró-democracia membro de uma organização que contribuiu para o derrube do ex-Presidente Blaise Compaoré em 2014: “Estão a tentar destruir todas hipóteses de democracia que o povo quer pôr em prática. Vamos agora criar a nossa estratégia com o objetivo de salvarmos a nossa democracia”, afirmou o ativista.
Para Alexander Stoh, do Instiuto de Estudos Globais e Regionais (GIGA) na cidade alemã de Hamburgo, a situação no Burkina Faso poderá complicar-se com este golpe: “Se alguém como o general Gilbert Diendéré assume o poder pode-se partir do princípio que vamos assistir a um endurecimento das relações entre a antiga oposição, que dominava até agora o processo de transição, e os que estão agora novamente no poder, os apoiantes de Blaise Compaoré. Não vejo uma porta de saída para esta situação.”
Irá o Burkina a votos?
Entretanto, os dois candidatos favoritos para a eleição presidencial de 11 de outubro, Zephirin Diabré e Roch Marc Christian Kaboré, condenaram já o golpe de Estado no Burkina Faso.
Os candidatos convocaram os seus aliados para defenderem a democracia e exigiram a libertação dos membros do Governo de transição para além de não aceitarem qualquer perturbação no calendário eleitoral. Reiteraram o apoio ao Governo que foi destituído, exigindo o regresso à ordem constitucional.
O líder do golpe militar, o general Gilbert Diendéré, prometeu que as eleições serão realizadas. Mas surgem já muitas dúvidas a esse respeito: "As eleições não irão ter lugar”, suspeita o investigador do GIGA, Alexander Stoh.
A situação na capital é atualmente tensa, com registo de algumas casas incendiadas. O Presidente de transição, Michel Kafando, e o primeiro-ministro, Isaac Zida, mantêm-se reféns dos militares em Ouagadougou. Os militares golpistas afirmaram que eles foram colocados em prisão domiciliária e garantiram que irão libertá-los. As Nações Unidas, a União Africana , a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e a União Europeia já exigiram a libertação imediata do Presidente interino e do primeiro-ministro.