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Loja de Energia: Um projeto de oportunidades

16 de novembro de 2017

Levar energia também ao meio rural é o objetivo de Gilda Monjane. E não é qualquer energia: é limpa e a preço acessível. Com o seu projeto Loja de Energia Gilda Monjane também empodera as mulheres rurais.

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Gilda Monjane, empreendedora moçambicanaFoto: DW/N.Issufo

Ela não tem apenas uma cabeça cheia de luzes. Os seus braços também são úteis: montam os painéis solares que vende. Claro que isso causa admiração a muitas pessoas, afinal é um trabalho ainda considerado tipicamente masculino. Mas Gilda Monjane ultrapassa esses preconceitos e está decidida a arrastar muitas outras mulheres com ela. Por causa disso já ganhou prémios internacionais. Está aqui em Bona a participar do COP 23 e aproveitamos para falar sobre a sua Loja de Energias.

DW África: Conte-nos, o que é a Loja de Energia?

Gilda Monjane (GM): Loja de Energia é um projeto que pretende levar para junto do cidadão, que precisa mesmo dessas energias limpas, energias renováveis. Porque não basta só falarmos das energias novas e renováveis se não temos o produto perto do cidadão que precisa.

DW África: Qual é a natureza da vossa loja? Estou a pensar num loja convencional, é nesse modelo clássico de vendas?

GM: A natureza da loja partiu de uma investigação para a minha tese de mestrado no meio rural, onde as pessoas não estão ligadas à rede elétrica, mas ao mesmo tempo não têm loja para comprarem a energia ou um kit solar. Então, decidi criar um modelo de distribuição em que levava a loja para o meio rural, que já oferece garantias a quem compra e oferece também a montagem e explicação. Loja é só um nome, mas pode ser uma barraca onde se vendem os kits solares.

DW África: E qual é o nível de procura e interesse?

15.11.17. Moc. Gilda Energia Limpa - MP3-Mono

GM: Noto muito interesse. Algumas vezes vou para as comunidades fazer propaganda e sou obrigada a montar, porque os líderes comunitários dispensam a propaganda argumentando que já sabem o que querem. Pode notar que, por exemplo, as pessoas para recarregarem um telemóvel podem percorrer uma longa distância. E o kit solar já resolve essa questão. E o líder comunitário ajuda-me a ficar com o projeto.

DW África: E as pessoas dessas comunidades têm capacidade financeira para pagar os painéis solares?

GM: Algumas têm e outras não. Procuro adaptar um meio de pagamento ou sob forma de chitique, em que eles se ajudam uns aos outros, e há os que pagam numa única prestação. E mais recentemente surgiu a possibilidade de aceder a micro-créditos locais em que nos ajudam a fazer essa aquisição. Estou a tentar aproximar-me dos fundos de desenvolvimento local, porque acho que são uma boa oportunidade para ajudar a população a ter o kit solar.

DW África: O seu projeto tem algum tipo de apoio ou subsídio?

GM: Até este momento, infelizmente, ainda não tive nenhum apoio, a não ser o apoio do prémio SID que ganhei em 2015, no valor de cinco mil dólares. Esse valor ajudou-nos a fazer novas iniciativas para novos sub-empreendedores, porque o meu objetivo é criar uma rede de empreendedores.

DW África: As lojas estão espalhadas por que regiões do país?

GM: Por todo o país, mas há zonas que ainda não conseguimos alançar por falta de fundos. O nosso desafio é alcançar as zonas mais recônditas, onde sabemos que para a energia chegar aí vai levar mais de vinte anos. Se falamos muito em justiça climática, então faz parte oferecermos uma energia limpa. E já notamos que a EDM, Eletricidade de Moçambique, não vai conseguir alcançar todos nós.

DW África: Tem alguma relação de trabalho com as autoridades moçambicanas?

Gilda Monjane, unternehmungslustig aus Mosambik
Foto: DW/N.Issufo

GM: Posso dizer que coordenamos as atividades com o fundo do Governo mas não temos fundos dele. Para começar, as poucas lojas que temos, fora do fundo SID Award, eu tenho trabalhado para ajudar outras mulheres a abrirem as suas pequenas lojas. E não é tarefa fácil, porque também tenho a minha família para cuidar. Tenho conhecimento noutras áreas, para além de montagem dos sistemas solares. Com o dinheiro que ganho ajudo novas mulheres a ficarem independentes. E acho que nesta questão de mudanças climáticas e energias, se não contarmos com as mulheres, não vamos conseguir vencer a batalha.

DW África: Está em Bona a participar da COP 23. O que traz para aqui?

GM: O Green Inovation Workshop. Fui convidada para vir partilhar a minha experiência. Porque para além de distribuirmos energia com kits solares estamos também focados agora na questão do bombeamento de água para a irrigação. Então, vim cá mostrar essa ideia de que podemos vencer a questão da carência de chuvas em resultado das mudanças climáticas. Este fenómeno faz com que as chuvas já não sejam regulares. E também mostra a ideia de que se pode processar alimentos com a energia solar.

DW África: E encontrou parceiros? Fez bons contactos?

GM: Os contactos estão a ser bons. E é engraçado que não corro atrás das pessoas, elas é que corem atrás de mim para poderem ir a Moçambique expandir o que estamos a fazer. 

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África