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Genocídio na Namíbia: "É tempo da Alemanha pedir desculpas"

Jasko Rust
26 de fevereiro de 2024

A visita do Presidente alemão à Namíbia, que tinha como principal objetivo homenagear o falecido Presidente Hage Geingob, aumentou as expetativas sobre um possível pedido de desculpas pelo genocídio da era colonial.

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Frank-Walter Steinmeier prestou homenagem ao falecido Presidente namibiano Hage Geingob
Frank-Walter Steinmeier prestou homenagem ao falecido Presidente namibiano Hage GeingobFoto: Jasko Rust/DW

O presidente da Namíbia, Hage Geingob, foi sepultado no domingo (25.02), após um funeral de Estado com a presença de políticos de alto escalão e diplomatas de todo o mundo.

O popular chefe de Estado, carinhosamente conhecido como "Presidente do Povo", morreu em 4 de fevereiro, logo após tornar público seu diagnóstico de cancro. Sua morte causou comoção em todo o país.

Na cerimónia fúnebre realizada em Windhoek, no sábado, os presentes recordaram o caminho partilhado até à independência da Namíbia e elogiaram os esforços de Geingob em prol do seu país. Os convidados internacionais, entre os quais o Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, prestaram a sua homenagem com mensagens de condolências.

"O Presidente Geingob será sempre recordado pela sua coragem em estender a mão ao povo alemão no abismo negro da nossa história", disse Steinmeier.

O "abismo negro" era uma referência ao genocídio da era colonial cometido contra as comunidades Ovaherero e Nama entre 1904 e 1908, quando as forças militares alemãs mataram cerca de 50.000 a 65.000 pessoas do grupo étnico Herero da Namíbia e outros 10.000 membros do grupo étnico Nama.

O funeral de Estado contou com a presença de milhares de pessoas
O funeral de Estado contou com a presença de milhares de pessoasFoto: Jasko Rust/DW

No início da cerimónia, McHenry Venaani, o líder da oposição oficial, foi o primeiro a abordar diretamente a questão controversa.

"O nosso povo espera que o caso de genocídio seja resolvido", disse, desviando-se do discurso que tinha preparado e dirigindo-se diretamente a Steinmeier. "Pedimos-lhe que faça um acordo respeitável em nome do nosso povo, para que possamos encerrar este capítulo."

Genocídio no centro das atenções

As negociações para uma declaração conjunta sobre o genocídio entre os dois países estão em curso há quase uma década. Um projeto de declaração foi apresentado em maio de 2021, juntamente com uma oferta do Governo alemão de 1,1 mil milhões de dólares (mil milhões de euros) em fundos de desenvolvimento a serem pagos ao longo de 30 anos como reparação.

A proposta foi rejeitada pelo Governo namibiano e pelas comunidades locais, e ainda não foi assinada por ambas as partes, com fortes críticas de políticos da oposição e descendentes de vítimas de genocídio.

Os horrores do passado colonial da Alemanha na Namíbia

Nas suas observações, Steinmeier centrou-se nas negociações em curso entre a Namíbia e a Alemanha. Segundo ele, a Alemanha "está empenhada na via da reconciliação". Steinmeier prometeu voltar para apresentar o tão esperado pedido de desculpas pelas atrocidades cometidas durante o domínio colonial alemão.

"Espero poder regressar a este país muito em breve e em circunstâncias diferentes, porque estou convencido de que é mais do que tempo de apresentar um pedido de desculpas ao povo namibiano", disse Steinmeier.

Geingob e Steinmeier encontraram-se pela última vez em outubro. Segundo Steinmeier, o seu homólogo namibiano disse-lhe nessa altura que se comprometia a concluir o assunto durante o seu último mandato, que terminaria em março de 2025. No sábado, Steinmeier comprometeu-se a cumprir essa promessa.

O carácter direto da mensagem de Steinmeier foi uma surpresa. Pouco antes da visita, o gabinete de Steinmeier disse que ele iria visitar a Namíbia principalmente para "homenagear uma pessoa excecional e uma figura pioneira para a democracia namibiana".

O Governo namibiano pediu à delegação que não fizesse do genocídio e das negociações em curso entre os dois Governos um ponto central da sua breve estadia. Por isso, o plano inicial de depositar uma coroa de flores às vítimas das atrocidades cometidas entre 1904 e 1908 foi abandonado.

Namíbia: um genocídio esquecido

Discurso de Steinmeier criticado

Embora Steinmeier tenha sido aplaudido várias vezes durante o seu discurso, a sua mensagem não foi universalmente aclamada. Sima Luipert, uma conhecida ativista e membro da Associação de Líderes Tradicionais Nama, foi a primeira a criticar.

"Considero doloroso que o Presidente alemão utilize o nosso período de luto para provocar e fazer-nos acreditar que a Alemanha é genuína no seu chamado processo de reconciliação através do seu discurso", escreveu num comunicado.

A Associação de Líderes Tradicionais Nama e a Autoridade Tradicional Ovaherero têm criticado regularmente as negociações entre a Namíbia e a Alemanha. Juntamente com o Movimento dos Sem Terra, na oposição, estão a contestar a legalidade da declaração conjunta no Supremo Tribunal da Namíbia. A próxima audiência está marcada para o início de março.

"Por um lado, estamos muito entusiasmados por saber que o Presidente da Alemanha está ansioso por pedir desculpa", disse à DW Lifalaza Simataa, porta-voz do Movimento dos Sem Terra.

"Por outro lado, estamos um pouco hesitantes. Já tivemos problemas em que o Governo da Namíbia deixou de fora as partes interessadas relevantes quando se trata destes diálogos", concluiu o porta-voz, questionando como seria um eventual pedido de desculpas alemão.

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