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Fuga em massa dos cristãos coptas do Egipto

27 de outubro de 2011

Desde a queda de Mubarak, em Fevereiro, aumentou a perseguição e a violência islâmica contra os cristãos coptas do Egipto. Cerca de 10 mil já terão abandonado o país, segundo uma ONG de defesa dos direitos humanos.

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Coptas egípcios cruzam os pulsos em sinal de protesto contra os ataques de radicais muçulmanos, Sidi Bishr, Alexandria, após incidentes junto a uma das suas igrejas.
Coptas egípcios cruzam os pulsos em sinal de protesto contra os ataques de radicais muçulmanos, após incidentes junto a uma das suas igrejas.Foto: AP

A “União Egípcia para os Direitos Humanos” revelou esta semana, no Cairo, que desde a queda de Mubarak já abandonaram o país mais de 10 mil coptas, maioritariamente jovens com formação superior, que temem o fanatismo religioso de vários grupos muçulmanos e se sentem discriminados pelas autoridades militares.

Tamer Salama, de 29 anos, é um dos 8 milhões de coptas egípcios, que representam dez por cento de toda a população egípcia, maioritariamente islâmica. "No Egipto sinto-me discriminado. A discriminação existe no local onde trabalho, mas se procurar um emprego novo sei que também serei vítima de discriminação", disse Tamer.

Protestos de cristãos coptas, em frente de um edifício das forcas de segurança, em Alexandria, contra a complacência das autoridades após mais um ataque muçulmano
Protestos de cristãos coptas, em frente de um edifício das forcas de segurança, em Alexandria, contra a complacência das autoridades após mais um ataque muçulmanoFoto: picture alliance/dpa

Ataques sangrentos

Desde o golpe que derrubou o antigo presidente Nasser, nos anos 50, a minoria cristã viu ser-lhe vedado o acesso a posições de chefia na função pública e dificultada a autorização para a construção de novas igrejas.

Entre março e outubro, o fanatismo dos muçulmanos contra os cristãos traduziu-se em ataques sangrentos a quatro igrejas e em confrontos que causaram a morte a mais de 60 pessoas. Os ataques são perpetrados por partidários da corrente salafista, que actualmente obedecem às tradições mais puritanas do Islão e da Irmandade Muçulmana, estes últimos tidos como inspiradores da Al-Qaeda.

Até agora não foi detido nem julgado nenhum muçulmano acusado de envolvimento nos ataques aos cristãos do Egipto, ao contrário do que tem repetidamente acontecido com outros dissidentes políticos egípcios.

Naguib Gabriel, ativista dos direitos humanos egípcio
Naguib Gabriel, ativista dos direitos humanos egípcioFoto: DW

Militares interessados no caos

Naguib Gabriel, director da “União Egípcia dos Direitos Humanos” classifica de “negro” o futuro desta minoria religiosa. “Antes da revolução – acrescentou - eram perseguidos indirectamente, mas agora os salafistas e a Irmandade Muçulmana atacam-nos de forma aberta e directa”.

Muitos observadores árabes e ocidentais defendem que as elites militares do país, indiferentemente de serem fiéis ou dissidentes de Mubarak, estão interessadas neste clima como forma de se perpetuarem no poder, num país com uma população que deseja segurança e estabilidade.

Autor: Viktoria Kleber / Pedro Varanda de Castro
Edição: António Rocha