Artistas moçambicanos reclamam falta de pagamento da FRELIMO
23 de novembro de 2015Um número considerável de artistas, entre eles músicos, está desde 2014 a reclamar a falta de apoio material e financeiro pelos trabalhos prestados à FRELIMO durante a última campanha para as eleições gerais e presidências - de outubro de 2014 - ganhas pelo partido no poder em Moçambique e pelo candidato Filipe Nyusi.
“Prefiro ser um alfaiate”
A participação no processo eleitoral contou com diversas manifestaҫões culturais a favor da FRELIMO e seu candidato, Filipe Nyusi. Os artistas lamentam que até hoje as promessas feitas na altura não tenham sido cumpridas.
Belo dos Santos, com mais de 12 anos de carreira artística, carinhosamente apelidado por “3C” confessa que não voltará aos palcos porque está dececionado com a atitude do Governo e particularmente, com a do partido FRELIMO que o terá enganado várias vezes: “Parei há muito tempo de lançar novas músicas. Perdi a vontade. Não existe aquela força de vontade para o músico continuar a dar o seu melhor. Sinto que estou, simplesmente, a gritar para não ganhar nada. Prefiro ser um alfaiate”.
O artista diz que se voltar a gravar músicas, será apenas para ele e sua família.
“Bolo grande”
Germano Ernesto, popularmente conhecido por Nico, também foi alvo de promessas da FRELIMO que, segundo ele, não passaram de falsas declaraҫões.
“A campanha acabou e ficamos a espera do ‘bolo grande’ que nos tinham prometido. Nós músicos não tinhamos que exigir o tipo do ‘bolo’, mas ficamos a saber que essa "prenda" seria uma aparelhagem. Depois da campanha terminar, a atual governadora da provincia de Sofala, Helena Taipo [a então chefe do Gabinete Eleitoral da FRELIMO na cidade de Nampula] foi embora sem nos dizer nada”.
Nico disse ainda que a antiga ministra do Trabalho Helena Taipo foi forҫada, depois de uma prolongada greve pacífica realizada no último mês de fevereiro por 40 músicos, a assinar um cheque no valor de 100 mil meticais, (cerca de 2088 euros), para honrar os compromissos assumidos pelo partido junto dos artistas que participaram de várias atividades no período que antecedeu as eleições.
“Recebi quatro mil meticais para trabalhar 45 dias, quando na verdade, recebo no mínimo cinco mil meticais por um show”, lamentou Nico.
Vira-casacas Os músicos dizem que não vão pressionar a FRELIMO a cumprir com os pagamentos e Nico justifica: “As coisas já estão a ferver, porque, eu não posso esconder, nós músicos já estamos a ser conquistados [pela oposição]”.
Germano Ernesto considera que o governo da FRELIMO tem contribuído para a desvalorização da cultura moçambicana precisamente devido a falta de incentivos, quer seja do ponto de vista material ou financeiro: “O povo já não escuta mais música de Nampula. O povo começa a escutar música de Angola. Já houve um tempo em que a música de Nampula estava forte, mas, caiu porque não abraçaram o próprio músico. Músico precisa de carinho”.
Voz da FRELIMO
Entretanto, Leonel Namuquita, primeiro secretário da FRELIMO, a nível da cidade de Nampula, não confirma e nem desmente a existência de conflitos entre o seu partido e os artistas. Mas garante que os problemas existentes estão a ser solucionados paulatinamente.
“Acredito que os compromissos assumidos serão cumpridos. Não podemos desviar as atenções daquilo que é o programa quinquenal [2015/2019]. Há prioridades. Portanto, é este o desafio para o bem estar das populações da cidade de Nampula”, esclarece Namuquita
Na semana passada, pelo menos 13 músicos protestaram junto às instalações do governo distrital de Nampula para reivindicar o pagamento das suas atuações, num espetáculo realizado em junho por ocasião da comemoração do dia da Independência de Moçambique.