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Forte ofensiva rebelde na República Centro-Africana

Silva-Rocha, Antonio19 de dezembro de 2012

Uma aliança de grupos rebeldes, que exige a aplicação dos acordos de paz assinados às autoridades da República Centro-Africana, continua a levar a cabo um intensa ofensiva desencadeada esta quarta-feira (19.12)

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Na segunda-feira (18.12), depois de uma troca de tiros com os soldados centro-africanos, os rebeldes ocuparam a cidade diamantífera de Bria, situada a 500 quilómetros da capital, Bangui. Esta quarta-feira, várias outras localidades situadas no norte do país também foram ocupadas. Os combates terão forçado o presidente centro-africano François Bozizé a solicitar um apoio militar ao vizinho Tchade.

A coligação rebelde Séléka (que significa aliança de várias facções rebeldes) e que ameaça derrubar o presidente François Bozizé, continua muito ativa, apesar da chegada à República Centro-Africana de soldados tchadianos. A ofensiva rebelde fez com que mais uma cidade passasse para o seu controle. A cidade de Kabo, no norte, é a segunda a cair depois do centro mineiro do país, Bria, ter sido ocupado na terça-feira.

Sandy Cyrus, ex-ministro centro-africano da Admnistração Territorial e atual diretor do jornal "Media Plus", lamenta a situação que o seu país vive neste momento, afirmando que "a coligação dos rebeldes continua a controlar Bria e tenta alargar esse controle a outras localidades".

"Informações de que disponho dão conta de que tropas tchadianas enviadas pelo presidente Idriss Deby estão a tentar criar uma cintura de segurança para impedir que os rebeldes avancem para outras regiões de onde poderiam progredir, com uma certa facilidade, em direção à capital Bangui", revela Cyrus.

Rebelião exige cumprimento de acordos

Reforços tchadianos bem armados e melhor organizados que as forças armadas centro-africanas, alegadamente mal pagas, desmotivadas e mal treinadas, entraram no país em resposta a um pedido urgente de ajuda lançado pelo presidente François Bozizé, cujo regime é contestado pela rebelião. Esta exige, nomeadamente, o pagamento das indemnizações prometidas aos combatentes que entregaram as armas, a libertação dos presos políticos e esclarecimentos sobre Charles Massi, um ex-chefe rebelde que desapareceu em 2010, ou seja, o respeito pelos diferentes acordos de paz assinados entre 2007 e 2011. Esses acordos, que nunca foram cumpridos por Bangui, previam um processo de desarmamento e reinserção dos combatentes.

O Tchade do presidente Idriss Deby, aliado fiel do presidente Bozizé, ajudou-o a ocupar o poder em Bangui em 2003 e em 2010 chegou a intervir no país vizinho para expulsar de Birao, a capital do norte, os rebeldes da Convenção dos Patriotas para a Justiça e a paz. O general François Bozizé, recorde-se, ocupou o poder através de um golpe de Estado em 2003, antes de ser eleito presidente em 2005 e depois reeleito em Janeiro de 2011.

Segundo muitos analistas, a chegada dos tchadianos à República Centro-Africana pode alterar a situação no terreno, impedindo desta forma os rebeldes de se aproximarem de Bangui a capital. Esses analistas acrescentam, por outro lado, que a atual ofensiva rebelde mostra a fragilidade do regime, e, por outro, anuncia um período de grande instabilidade num futuro próximo se o poder centro-africano não fizer um gesto em direção a todos os elementos da ex-rebelião que poderão ser tentados a retomar o caminho da guerra.

Povo é quem mais sofre com instabilidade

Simplice Fékoumon, próximo ao poder em Bangui, denuncia esta ofensiva armada da rebelião e afirma que "atualmente, o interior do país está completamente afetado pelos ataques da rebelião, com muitas pessoas a serem mortas". "Quando a rebelião ataca as aldeias, vilas e cidades é a população quem mais sofre", explica Fékoumon, lembrando que, "no entanto, a rebelião diz que veio para libertar o povo centro-africano". "Não compreendo isso", conclui.

País encravado com pouco menos de 5 milhões de habitantes, a República Centro-Africana, está envolvida desde 2008 num processo de paz, depois de muitos anos de instabilidade, múltiplas rebeliões, motins militares e golpes de Estado que destruíram o tecido económico e social do país e o impediram de tirar proveito dos seus recursos naturais, como o ouro.

Várias rebeliões assinaram acordos e fizeram "calar as armas" entre 2007 e 2011, mas, desde Setembro último, movimentos dissidentes no seio das rebeliões signatárias ressurgiram, como é o caso de Séléka, composta, entre outras, por uma ala dissidente da União das forças democráticas (UFDR) bem como de uma fação da Convenção dos patriotas para a justiça e a Paz (CPJP) duas rebeliões que rubricaram os acordos de paz.

Autor: António Rocha/ Frejus Quenum
Edição: Maria João Pinto / Marcio Pessôa