Nyusi exorta país a abandonar "espírito de autoflagelação"
21 de abril de 2018"O mundo acredita na transição acelerada de Moçambique de país pobre para um país de uma economia que beneficia todo o povo", afirmou Filipe Nyusi, numa declaração à imprensa, sem direito a perguntas dos jornalistas, sobre a sua participação esta semana na cimeira da Commonwealth.
O chefe de Estado moçambicano assinalou que, durante os encontros que manteve com dirigentes mundiais presentes na cimeira, verificou a confiança da comunidade internacional no desenvolvimento do país, assinalando o interesse pelos recursos naturais de Moçambique.
"O nosso gás está no mapa mundial, não nos podemos distrair", destacou Filipe Nyusi, apelando ao país para que acabe com o espírito de autoflagelação.
Os ganhos da exploração dos recursos naturais, prosseguiu, devem favorecer o combate à pobreza, beneficiando a população mais carenciada.
O Presidente moçambicano sublinhou que a presença em Londres permitiu ao Governo a "dissipação de equívocos" em relação à crise da dívida pública que o país enfrenta, exacerbada pela descoberta em 2016 de mais de dois milhões de euros de empréstimos escondidos.
Durante a cimeira, continuou, Moçambique foi encorajado a prosseguir os esforços de busca da paz, através da intensificação do diálogo entre os atores políticos nacionais.
O FMI e a crise da dívida
No entanto, na sexta-feira (20.04), o diretor do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que, sem esclarecimentos adicionais por parte de Moçambique relativamente aos recursos emprestados às empresas públicas, o Fundo não dará ajuda financeira ao país.
"Precisamos de uma clarificação sobre os recursos emprestados antes de nos envolvermos num programa [financeiro]", respondeu Abebe Aemro Selassie quando questionado pela agência Lusa sobre se o Fundo pode emprestar ao país, dado estar com uma dívida insustentável à luz dos critérios do Fundo.
"Dado estarem com dificuldade em servir [cumprir pagamento de encargos com] a dívida, estão com uma dívida problemática, não está numa trajetória sustentável", acrescentou Selassie no final da conferência de imprensa de apresentação das perspetivas económicas para a África subsariana, que decorreu em Washington.
"Como todos os membros do FMI, Moçambique está elegível para uma discussão, mas não há um pedido; o que dizemos é que precisamos de clarificação sobre os recursos emprestados antes de nos envolvermos num programa [financeiro]", salientou.
Selassie disse não ter informação nova sobre os contornos das negociações entre o Governo e os credores, nem sobre as investigações judiciais em curso no país.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima, nas previsões divulgadas esta semana, que a dívida pública de Moçambique continue a subir até 2022, ano em que representará 130,3% do PIB do país, para depois descer para 112,5% no ano seguinte.
De acordo com as previsões do 'Fiscal Monitor', apresentadas em Washington, Moçambique é um dos seis países da África subsariana com uma dívida insustentável, para além do Senegal, Zâmbia e Costa do Marfim, entre outros.
O FMI prevê que a dívida pública moçambicana continue a subir até 2022, passando de 110,1% do PIB este ano, para 116,6% em 2019 e 122,1% em 2020.
A dívida pública moçambicana continuará uma trajetória ascendente em 2021, chegando a 126,7% do PIB, e também em 2022, ano em que representará 130,3% do PIB, antes de descer para 112,5% do PIB no ano seguinte.