Falta de aleitamento materno em Moçambique causa mortalidade infantil
30 de agosto de 2011Em Moçambique, as autoridades da saúde estão preocupadas: os empregadores do setor privado não estão concedendo às mães o intervalo necessário para que amamentem adequadamente seus bebês.
Algumas mulheres afirmam que os empregadores, muitas vezes, ignoram a situação, fato que leva as mães a deixarem de dar o leite materno às crianças. O exemplo vem desta mulher que diz que amamentou por apenas um mês: "Os nossos patrões, quando pedimos uns minutos para darmos leite aos bebês, não aceitam".
As mães são informadas sobre o aleitamento materno nas unidades sanitárias, mas ainda assim enfrentam obstáculos durante esta fase, explica Edna Possolo, chefe da nutrição no Ministério da Saúde: "Muitas vezes, elas sofrem pressão dentro do espaço de trabalho e por medo de perder o emprego são obrigadas a trabalhar".
Segundo a especialista em saúde, a licença das mães de dois meses para o aleitamento materno em Moçambique geralmente não é cumprida.
E as crianças poderiam estar vivas
Dados do UNICEF indicam que em Moçambique pelo menos 13% das mortes em crianças com menos de cinco anos poderia ser evitada com práticas adequadas de aleitamento materno.
O enfermeiro Norberto explica que, durante as palestras que realizam nos centros de saúde, algumas mulheres aceitam os conselhos para amamentar, mas que na prática não cumprem.
Em Moçambique, apenas 63% das mães de recém-nascidos que iniciaram com o aleitamento cumprem com o recomendado até o final.
"Explicamos a importância de amamentar a criança pelo menos durante os seis [primeiros] meses de vida. É nesse tempo que a criança precisa desse leite porque aproveita ao máximo os nutrientes", acrescenta Norberto lembrando que o leite materno protege as crianças contra infecções.
Falta de informação
O Ministério da Saúde luta para encontrar soluções para que a mulher tenha tempo suficiente para amamentar a criança no posto de trabalho. "Nós estamos a promover a criação de cantos de amamentação. É um cantinho onde a mulher não só pode levar a sua criança, mas também onde pode fazer a extração do leite para que no dia seguinte, a pessoa que esteja a cuidar do bebê possa dar-lhe leite materno", explica Possolo.
Problemas culturais em Moçambique também contribuem para contrariar o que está recomendado: "Por exemplo, muitas vezes o colostro [uma forma de leite de baixo volume secretado nos primeiros dias de amamentação pós-parto] é considerado um leite sujo, por isso as mães deitam fora este leite em vez de dar ao bebê. Há desinformação, as sogras e os pais não favorecem o aleitamento materno porque não têm este conhecimento. Ainda há muito trabalho a fazer no sentido de aconselhamento, defende Possolo.
O aleitamento materno contribui para a realização dos seguintes Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: combate a fome e a pobreza, igualdade de gênero, diminuição da mortalidade infantil e mortalidade materna.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Bettina Riffel / António Rocha