Facebook apaga vídeo de médica "com a cura para a Covid-19"
29 de julho de 2020As plataformas das redes sociais Facebook, YouTube e Twitter decidiram apagar um vídeo viral no qual uma médica que atua nos Estados Unidos defende que um medicamento usado para o tratamento de malária e lúpus teria sucesso total no tratamento da Covid-19. O vídeo foi retirado do ar por, segundo as empresas, propagar a desinformação.
"Ninguém precisa de ficar doente. Este vírus tem uma cura", exclama Stella Immanuel no vídeo gravado na segunda-feira (27.07) nos degraus da Suprema Corte dos Estados Unidos, em Washington, durante um evento de médicos com opinião semelhante.
No início da pandemia, cientistas estavam ansiosos por descobrir se as propriedades antivirais da hidroxicloroquina a tornariam eficaz em doentes com o novo coronavírus. Até agora, porém, todos os principais ensaios clínicos sobre esta questão não encontraram qualquer benefício, e as principais autoridades nacionais de saúde moveram-se no sentido de restringir a sua utilização devido a potenciais danos cardíacos.
No entanto, a médica de família disse que todos os 350 pacientes que ela tinha tratado com o medicamento - incluindo aqueles com condições graves pré-existentes - tinham sobrevivido, e que a hidroxicloroquina seria tão potente que tornou desnecessário o uso de máscaras e bloqueios - uma ideia rejeitada pela maioria das políticas de combate à pandemia pelo mundo.
Desinformação partilhada
O clip foi partilhado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e descrito como um "must watch" pelo seu filho Donald Trump Jr. No entanto, foi apagado pelas redes sociais por promover a desinformação.
Perguntado mais tarde por um repórter sobre o partilhamento do vídeo, o Presidente disse: "Pensei que a opinião da médica era importante, mas não sei nada sobre ela".
O debate sobre esse medicamento tornou-se politicamente exacerbado com líderes como o brasileiro Jair Bolsonaro e norte-americano Trump, entre outros conservadores, a liderarem uma forte claque a seu favor.
O caso de Immanuel e de seus colegas - foi divulgado primeiramente em redes sociais da direita ocidental – e mostra até onde os defensores do medicamento estão dispostos a ir. O website do "America's Frontline Doctors" - organização a qual a médica pertence - foi registado há apenas 11 dias.
Segundo publicam agências de notícias nesta quarta-feira (29.07), pesquisas na internet sobre Immanuel revelam uma longa lista de crenças não científicas. Entre elas está a ideia de que "espíritos atormentadores" têm rotineiramente "sexo astral" com mulheres e isso, por sua vez, causaria "problemas ginecológicos, angústia conjugal, abortos espontâneos" entre outros problemas.
Num vídeo de 2015, Immanuel - que também lidera um grupo religioso chamado Fire Power Ministries - afirma: "Há pessoas que governam esta nação [Estados Unidos] que nem sequer são humanas", descrevendo-as como "espíritos reptilianos" que são "metade humanos, metade extraterrestres".
No mesmo vídeo, ela ataca o uso de "ADN alienígena" para tratar pessoas doentes, o que, segundo ela, resultou na mistura de seres humanos com demónios. Outros alvos da sua raiva incluem o casamento gay - o qual, segundo ela, acabaria por ocasionar o casamento de adultos com crianças.