Ex-chefe da diplomacia critica falta de visão em São Tomé e Príncipe
4 de junho de 2012Para a DW África, a ex-funcionária das Nações Unidas quebrou o silêncio, 27 anos depois de ter deixado o cargo, em 1985, na sequência de divergências com o então e atual chefe de Estado, Manuel Pinto da Costa. Amorim foi a primeira mulher a exercer o cargo de embaixadora de São Tomé e Príncipe em Portugal e a assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros, após a independência em 1975.
A seu ver, a política externa de São Tomé e Príncipe não está no rumo certo, diz com frontalidade. Amorim afirma-se preocupada pelo facto do país não ter voz no exterior: “Desconhece-se quais são as prioridades da política externa que são seguidas pelo nosso país”.
Imagem de São Tomé e Príncipe em causa
Em entrevista à DW, em Lisboa, onde reside, Maria Amorim salienta o facto do país não ter direito de voto nas Nações Unidas por dívida acumulada. Um país sem direito de voto não é escutado adverte, e entende esta grande lacuna como uma demonstração de que o país está sem norte.
Recentemente, alegadas divergências entre a Presidência da República e o Governo do primeiro-ministro Patrice Trovoada terão levado o ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades, Manuel Salvador dos Ramos, a ponderar demitir-se. Para Maria Amorim, este caso indicia falta de diálogo e um possível conflito institucional: “Algo se passou”, concorda, escusando-se, porém, a especular sobre as motivações do ministro. No entanto, adverte: “Isso mostra que há realmente um problema ao nível da política externa de São Tomé e Príncipe que deve ser analisado com a frontalidade necessária e com sentido de responsabilidade”. A ex-funcionária das Nações Unidas defende que a presente situação prejudica a imagem do país.
Justiça não funciona
Quando estava no Governo, refere, havia sentido de Estado, dignidade e credibilidade. O desafio centrava-se na afirmação de uma jovem nação independente, que granjeou respeito no plano internacional. Hoje, falta autoridade do Estado, a Justiça não funciona e a pobreza tende a crescer. Amorim também critica a corrupção e a impunidade: “Porque se um país pretende ser e quer-se afirmar como um Estado de direito, a justiça tem que funcionar de maneira independente e o mais justa possível. Acho que São Tomé e Príncipe tem que pensar a sério como consolidar a Justiça”.
Por muitas razões, diz Amorim, adiantando que o país não pertence a uma só pessoa: “Temos que sentir que todos estamos no mesmo barco, que todos temos que levar este país para a frente. Temos que lutar para dar melhores condições ao povo. E, sobretudo, respeitar o bem público”.
A ex-ministra acrescenta que os governantes devem arrumar a casa e criar um sentimento de confiança, para que os são-tomenses se sintam respeitados, promovendo consequentemente o bem-estar social.
Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha