Etiópia: ONU denuncia crimes de guerra em Tigray
5 de março de 2021Na quinta-feira (04.03), altos funcionários da ONU denunciaram possíveis crimes contra a humanidade na região de Tigray, incluindo pelas tropas da Eritreia, e apelaram a uma retirada por parte do país vizinho, que nega o envolvimento.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, acusou a Etiópia de atrocidades na região separatista do norte e exortou a Etiópia a permitir a entrada de investigadores que possam conduzir uma investigação independente em Tigray.
O Gabinete para os Direitos Humanos das Nações Unidas denunciou abusos como violência sexual e execuções extrajudiciais. Os responsáveis são alegadamente o Exército da Etiópia mas também a Frente Popular de Libertação do Tigray (FPLT), as forças da Eritreia e combatentes da região vizinha de Amhara e outras milícias que apoiam o governo etíope.
O governo de Adis Abeba isolou Trigay e, até ao momento, recusou os pedidos da ONU e de vários países para que seja garantido o acesso a pessoal humanitário e especialistas que possam comprovar o que está a acontecer à população da região composta por cerca de cinco milhões de pessoas.
Milhares de pessoas morreram desde que o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, lançou uma ofensivaarmada contra o FLPT no dia 4 de novembro de 2020. Abiy ordenou a operação militar, após acusar a FLPT de um ataque do Exército federal no Tigray.
HRW acusa tropas da Eritreia de massacre
Também a Human Rights Watch (HRW) denunciou hoje que tropas da Eritreia mataram "mais de 200 civis" em novembro na cidade histórica etíope de Axum, onde se regista um conflito armado há mais de quatro meses. Os confrontos começaram a 28 de novembro depois de soldados etíopes e eritreus terem tomado o controlo da cidade às forças que apoiavam a FPLT.
"Depois de a milícia de Tigray e os residentes de Axum terem atacado as forças da Eritreia, no dia 28 de novembro (2020), as forças eritreias, em aparente represália, dispararam e executaram sumariamente centenas de residentes, na maioria homens e crianças (do sexo masculino), durante um período de 24 horas", indica a HRW através de um comunicado.
"As tropas eritreias cometerem assassinatos atrozes em Axun sem respeitarem a vida dos civis", disse a diretora da HRW para a região do Corno de África, Laetitia Bader. A HRW não conseguiu determinar o número exato de civis mortos na sequência da ofensiva conjunta da Etiópia e da Eritreia em Axum e o massacre que se segiu. Mesmo assim, estima que "mais de 200 civis morreram entre os dias 28 e 29 de novembro", de acordo com entrevistas efetuadas junto de membros da comunidade.
"As Nações Unidas devem estabelecer com urgência uma investigação independente sobre os crimes de guerra e dos possíveis crimes de lesa humanidade na região para que sejam prestadas contas sendo que as autoridades devem permitir o acesso pleno e imediato" à região, exigiu a HRW.
A organização não-governamental com sede em Washington emitiu o comunicado depois de a Amnistia Internacional denunciar, no passado dia 26 de fevereiro, a matança de Axum que fez "240 vítimas" civis.