Especial: Fome em África
16 de outubro de 2017É uma daquelas situações em que só mais tarde nos apercebemos do que se passou. Uma médica e uma enfermeira tentam ressuscitar uma criança. Os pais estão imóveis, à beira da cama. Mas, minutos depois, a médica dá ordem para terminar a ressuscitação. Um leve soluçar quebra o silêncio na sala. E depois um grito. Um enfermeiro traz um separador, que coloca em frente à cama. Não sabemos o que se passou a seguir.
Esta cena, num centro de saúde no norte do Quénia, foi um dos momentos mais angustiantes da nossa viagem pelos territórios africanos mais atingidos pela fome. E mostra que as 26 milhões de pessoas ameaçadas não são números abstratos. A menina no centro de saúde no Quénia não morreu de uma doença incurável ou vítima de um acidente. Morreu porque não tinha o suficiente para comer.
Fala-se pouco sobre a fome
Ao longo de várias semanas, os repórteres da DW estiveram em vários países e falaram com trabalhadores humanitários, especialistas, políticos e, sobretudo, com pessoas afetadas pela fome para saber mais sobre as causas deste problema.
Não é uma coincidência o facto de este projeto ser realizado agora: no início do ano, as organizações humanitárias alertaram que a seca prolongada poderia desencadear uma das piores crises alimentares das últimas décadas em África e no Iémen. Mas, de lá para cá, o assunto deixou de ser destaque na comunicação social, apesar de a situação não ter melhorado. Só nos países mais afetados, o Sudão do Sul e a Somália, mais de 14 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar.
A causa: o próprio homem
O que conduziu a esta situação dramática? A conclusão dos nossos repórteres não deixa margem para dúvidas: não foi a natureza que causou este problema, mas o próprio homem. As alterações climáticas, a desflorestação e o uso das terras para proveito só de alguns dificultam cada vez mais a vida dos pequenos agricultores africanos.
Mas os conflitos têm consequências ainda mais devastadoras. A violência dos grupos terroristas ou as guerras civis afetam gravemente países como a Nigéria, o Sudão do Sul ou a Somália, e o Estado não cumpre as suas tarefas básicas. Muitos cidadãos não sabem o que é ter assistência médica, educação ou segurança. Ao mesmo tempo, uma pequena elite enriquece.
Otimismo moderado
Ainda assim, os repórteres da DW regressaram com histórias de esperança. A Somália, por exemplo, tem um novo Governo desde o início do ano, após 20 anos de guerra civil. Muitos analistas revelam-se moderadamente otimistas. Além disso, os repórteres conheceram pessoas que, apesar de viverem em situações difíceis, não desistem. O homem não é só a causa das crises alimentares; pode também solucioná-las.
Ao longo desta semana publicaremos diariamente artigos e vídeos sobre a fome em África aqui na nossa página, www.dw.com/portugues