"Escola da Amizade" – Solidariedade internacional?
3 de outubro de 2014899 crianças moçambicanas em plena República Democrática da Alemanha (RDA). Milhões investidos. Um projeto de solidariedade internacional. Ou, antes, de interesse nacional?
Samora Machel disse uma vez que “a formação de crianças deveria ser como um tomate. Quando está maduro, explode e as sementes voam para os lados.” A ideia de Machel, o primeiro Presidente da República de Moçambique e, naquela altura, finais dos anos 70, líder do partido FRELIMO, adequa-se bem à “Escola da Amizade” (em alemão “Schule de Freundschaft”).
O projeto da instituição veio assinado na bagagem da visita à África em 1979 por Erich Honecker, secretário-geral do Partido Socialista Unificado da República Democrática Alemã (SED). O acordo da “Escola da Amizade” era um de diversos acordos de Amizade e Cooperação.
Uma escola na RDA para crianças moçambicanas
Três anos depois, o edifício estava em pé. Foi construído na pequena cidade de Staßfurt, perto de Magdeburg na província da Saxónia-Anhalt, na Alemanha de Leste. Lá, iriam viver durante quatro anos 899 crianças moçambicanas. Lá, estas crianças iriam receber formação escolar e, depois, profissional. Iriam tornar-se pedreiros, Embora a formação política tenha sido entregue à responsabilidade dos professores moçambicanos, a ideologia socialista era uma constante no dia-a-dia da escola, que se terá tornado na predileção de Graça Machel, mulher do presidente moçambicano e, na altura, ministra da Educação do país.
A “Escola da Amizade” era oficialmente um símbolo de solidariedade internacional. Mas também para a RDA a instituição deveria trazer vantagens – sobretudo económicas, o que tornava a intenção do projeto um tanto questionável.
O colapso da Alemanha de Leste
Em 1988, um ano antes do colapso do bloco comunista e, com ele, da RDA, a “Escola da Amizade” chegou ao fim. A primeira geração de adolescentes moçambicanos tinha terminado a formação e regressado ao seu país. Mas Moçambique ainda estava em guerra e, no país, não se falava das medidas de desenvolvimento previstas.
A maioria dos ex-alunos da “Escola da Amizade” não regressou à Alemanha, depois do regresso a Moçambique previsto para logo que a formação terminasse.
Em 2009, vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, Marta Barroso conversou com Custódio Tamele, um dos moçambicanos de Staßfurt, Heinz Berg, o ex-director do internato da escola, e Joachim Scheuermann, ex-professor de Física – acompanhe as entrevistas nesta edição do Contraste.