Eleições na CAF: África dividida
15 de março de 2017Issa Hayatou já tem 70 anos de idade, mas não tenciona deixar o cargo para os mais novos. O camaronês também é vice-presidente da FIFA, a Federação Internacional de Futebol. Os candidatos que participaram nas corridas eleitorais contra ele foram sempre considerados fantoches. Agora com o adversário Ahmed Ahmed a "estória" é outra, Issa Hayatou enfrenta um desafio real. Por outro lado, pesam sobre Hayatou acusações de corrupção e suborno.
Por exemplo, um jornal britânico acusa-o de ter recebido 1,5 milhões de dólares para votar no Qatar, aquando da sua seleção para sediar o Mundial de Futebol de 2022, há sete anos.
Thomas Kwenaite é jornalista desportivo na África do Sul acusa-o de "controlar o futebol africano desde 1988, há cerca de 29 anos. Muitas pessoas pensam que ele comanda o futebol africano com mão de ferro e há alegações de que tudo tem de andar como ele quer, caso contrário fica-se de fora. Por outras palavras: se alguém não concorda com as suas posições fica completamente excluído do sistema."
Esforços para acabar com a era Hayatou
Desta vez, ao que tudo indica, vários membros da CAF, a Confederação Africana de Futebol, estão decididos em acabar com a supremacia de Issa Hayatou.
Os esforços nesse sentido são enormes, por isso o comentarista moçambicano e especialista desportivo Alexandre Zandamela acredita que "se Hayatou ganhar estas eleições vai ser com uma margem mínima porque há um certo desgaste da sua imagem. E alguns países já começam a colocar a hipótese de entregar a CAF a uma outra figura, razão pela qual aparece este malgaxe que tem o apoio de muitos países."
Já Ahmad Ahmad é um ex-ministro do Madagáscar e membro do Senado. Preside ainda a Federação de Futebol do seu país e vai já no terceiro mandato. Considerada pessoa calma, surpreendeu a todos com a sua decisão de desafiar Hayatou.
Votos sub-regionais?
Supõe-se que ele tenha forte apoio na sua sub-região, a África Austral. Igualmente supõe-se que Hayatou reúne apoio na sua região, a África Ocidental. Mas um evento de apoio ao candidato malgaxe, realizado pelo presidente da Federação de Futebol do Zimbabué, mostra que as coisas não são tão lineares assim.
Alexandre Zandamela observa o seguinte: "Se formos ver os dois são francófonos. Também não diria que vai ser uma luta entre a África Ocidental e a África Austral, porque nesse evento realizado no Zimbabué não estiveram presentes apenas presidentes das federações da África Austral, estiveram também presidentes de federações da África Ocidental."
E o comentarista exemplifica: "O presidente da Federação da Nigéria disse nesse evento que o seu país não votaria no Issa Hayatou, mas sim no malgaxe. Isso para elucidar que o apoio ao malgaxe não é apenas da África Austral. Até é provável que alguns países da África Austral nem o apoiem."
Que países assumem os seus candidatos?
Os escândalos de suborno e acusações contra o candidato camaronês não assustam alguns membros, como por exemplo os do Conselho das Associações de Futebol da África Oriental e Central, que inclui o Quénia, Etiópia, Uganda, Ruanda, Tanzânia, Burundi, Sudão do Sul, Djibuti e Somália. Eles decidiram apoiar Hayatou. Mas poucos são os países que assumem claramente o seu candidato. Mas o Egito já disse que votará em Ahmed.
Já Moçambique, por exemplo, prefere fazer segredo quanto ao seu voto, como conta Zandamela: "Ouvi uma entrevista com o presidente da Federação Moçambicana de Futebol, ele partiu para a Etiópia. Quando lhe perguntaram para quem iria o voto de Moçambique ele não disse explicitamente para quem recaía, mas respondeu que será para aquela figura que apresentar o melhor projeto para o desenvolvimento do futebol de África, em particular os apoios que poderão vir para Moçambique."