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Entre estreias e clássicos: Maputo acolhe semana do cinema africano

Correia da Silva, Guilherme2 de abril de 2013

A primeira Semana de Cinema Africano acontece de 11 a 18 de Abril, na capital moçambicana. O objectivo: lembrar que nem só em Hollywood ou Bollywood se fazem filmes - também em África se produz cinema.

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A Semana de Cinema Africano será realizada em parceria com a Universidade alemã de Bayreuth e o ICMA, o Instituto Cultural Moçambique - Alemanha.

À frente da organização da mostra está João Ribeiro. O realizador moçambicano falou em entrevista à DW sobre as razões que impulsionam o evento, que abre com a última longa-metragem do moçambicano Licínio Azevedo, incluindo também clássicos do cinema africano.

DW África: Que motivos o levam a organizar este festival?

João Ribeiro (JR): Em primeiro lugar, os ciclos de cinema africano são uma coisa que já não acontece em Moçambique há muitos anos. Há mais de 20 anos que não há uma mostra de cinema africano dedicada ao cinema de longa metragem de ficção, portanto, essa é uma das razões. A segunda razão é que eu também sou produtor, sou realizador, e nas conversas que temos tido entre nós, os colegas, sinto que há falta de uma alternativa ao cinema comercial, ao cinema americano, ao cinema que nós vemos - que também não é muito - mas que é o único que existe. E dessa procura, dessa necessidade, surge a ideia de trazer estes filmes de uma forma regular, estruturada, filmes que possamos escolher pela sua qualidade. E, no fundo, é isto, brindar o público que gosta de cinema.

DW África: E que filmes se vão poder ver nesta primeira edição? De que países, por exemplo?

JR: Nós temos dois programas. Temos o programa principal, que é um programa actual, contemporâneo, e temos um programa a que chamamos clássico. São filmes considerados clássicos pelo seu percurso. Já estiveram em muitos sítios, são referências na cinematografia africana, embora não sejam filmes da história do cinema africano. O programa principal inclui filmes lançados há menos tempo, de 2012, 2009, 2011. Temos a antestreia do último filme do Licínio Azevedo, que é o último filme moçambicano de ficção, o filme que vai abrir a mostra. Depois temos filmes do Burkina Faso, da África do Sul, do Ruanda, República Democrática do Congo, Camarões, Senegal, Costa do Marfim, Mali e Mauritânia, num total de 16 filmes.

DW África: Como é que tem sido organizar esta primeira semana de cinema africano, tem sido difícil?

JR: Bom, é como tudo. Eu sou produtor e a equipa que está a trabalhar nisto, a apoiar-me, é composta por pessoas também ligadas à produção: são cinéfilos e cineastas que já organizaram outras mostras e outros ciclos, portanto, estão habituadas à dificuldade. É um grupo de trabalho da pesada, digamos assim. Somos pessoas habituadas a isto e a dificuldade aqui está em não haver nenhum tipo de apoio, nenhuma instituição vocacionada à qual possamos submeter este projecto, por exemplo. Isto é muito recente, começamos a falar disto no final do ano passado, no princípio deste ano consolidou-se e agora vai para a rua. Portanto, os passos foram dados, as dificuldades são grandes, estamos a fazer com aquilo que temos: cada um de nós dá o seu trabalho, o seu dinheiro, o seu carro, os seus meios. Os realizadores foram simpáticos, porque estamos a fazer uma parceria com a Universidade alemã de Bayreuth, que tem um papel fundamental, pois também tem um festival de cinema africano anual, e a partir daí, dessa parceria, é que se conseguiram os direitos para exibir estes filmes.

DW África: E quando chegar ao dia 18 de Abril, que é o último dia desta primeira semana de cinema africano, que objectivo gostaria de ver concretizado?

JR: As mostras não são apenas passar filmes: vamos ter debates, discussões onde se vai falar de cinema. E se nós chegarmos ao fim disto e tivermos 40 ou 50% das salas ocupadas ou 60%, já vamos ficar muito satisfeitos porque, primeiro, o cinema africano tem de ser introduzido. Depois, tem de se criar o hábito do cinema, que é uma coisa que aqui não há. O cinema é caro, as pessoas não vão ao cinema, há muita pirataria, há muitos dvd na rua, portanto, há que combater determinados preconceitos e atitudes das pessoas para com os cinemas e o cinema africano em particular. Por isso, se tivermos as salas compostas por um grupo de pessoas e estas pessoas participarem nos debates, já acreditamos ter dado um passo muito grande para a continuidade disso e para promover estes realizadores e produtores que, à força de muito trabalho e sacrifício, conseguem fazer estes filmes não só nos seus países, mas também fazer com que sejam vistos lá fora.