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EducaçãoEmirados Árabes Unidos

Emirados pretendem incluir o Holocausto no ensino escolar

Kersten Knipp
27 de janeiro de 2023

Os Emirados Árabes Unidos seriam o primeiro país árabe do Médio Oriente a introduzir o Holocausto como disciplina regular nas suas escolas. A realizar-se seria um marco histórico. Mas há ainda muitas questões em aberto.

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Foto: Karim Sahib/AFP

A notícia causou sensação: No início de janeiro, a Embaixada dos Emirados Árabes Unidos (EAU) em Washington anunciou na plataforma digital Twitter que o país planeava incluir o Holocausto no currículo de disciplinas nas escolas primárias e secundárias. A embaixada considerou tratar-se de um passo lógico na sequência dos Acordos de Abraão assinados, há dois anos, por países apostados em normalizar as relações com Israel.

Para além dos EAU, os signatários incluem o Bahrein, Marrocos e Sudão, na senda de acordos semelhantes nos quais o Egito e a Jordânia reconheceram oficialmente Israel já há várias décadas. Muitos outros países continuam a rejeitar qualquer contacto oficial com o Estado judaico. Os EAU estão a assumir a liderança nos esforços para reconciliar Israel e o mundo árabe.

O que parece incluir uma nova forma de lidar com o Holocausto. Tornar o tema parte regular do currículo nas escolas seria um enorme progresso, pioneiro no mundo árabe. Ali Al Nuaimi, membro do Conselho Nacional dos EAU, já tinha declarado em Washington, em novembro passado, que comemorar as vítimas do Holocausto assumia "importância crucial".

Louvor de Israel e dos EUA

Parte do mundo árabe, onde muitos cidadãos simpatizam com a causa palestiniana no conflito do Médio Oriente, continua a ter dificuldade em reconhecer o genocídio dos judeus pelos nazis. É certo que tem havido uma sensibilização parcial para a questão nos últimos anos. Mas a hostilidade contra os judeus ainda é muito presente em vários países. Muitos políticos árabes ainda hoje negam o Holocausto, algo que se reflete também nos debates nas redes sociais. Acresce as tentativas de relativizar historicamente a chacina em massa de judeus na Alemanha e na Europa durante a era nazi, através de comparações despropositadas com o destino dos palestinianos em Israel e nos territórios palestinianos.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita reagiu, por isso, positivamente à iniciativa dos EAU, elogiando nas redes sociais e em língua árabe a "decisão histórica".

A responsável pelo combate ao antissemitismo do Departamento de Estado dos EUA, Deborah Lipstadt, também elogiou a mudança, dizendo nas redes sociais esperar que outros países seguissem o exemplo.

Detalhes ainda em aberto

Mas pouco se sabe até agora de concreto sobre as alterações futuras nos manuais escolares dos EAU. O jornal governamental "The National" anunciou que os planos estão a ser desenvolvidos em colaboração com o memorial israelita do Holocausto Yad Vashem e o Instituto Israelo-Britânico de Monitorização da Paz e Tolerância Cultural no Ensino Escolar (Impact-se).

Marcus Sheff, diretor da Impact-se, disse à DW que a sua instituição aconselhou com grande prazer e colocou à disposição dos EAU informações que espera virem a ser úteis no ensino sobre o Holocausto. Acrescentou que uma revisão do material didático já disponível mostra compatibilidade com os padrões de paz e tolerância definidos pela UNESCO. Mas o instituto ainda não conhece a versão final dos manuais escolares. O memorial Yad Vashem informou a DW que também não recebeu ainda o material. O jornal "The National" diz que a versão final está a ser elaborada, mas ainda não existe data concreta para a apresentação.

Por isso, também se desconhece quando começarão as lições. Uma entrevista marcada pela DW com a Embaixada dos EAU em Berlim acabou por não se realizar. Não foi possível encontrar fontes fiáveis para prestar informação sobre o assunto.

Museu e memorial de Yad Vashem
Só mantendo viva a memória do genocídio dos judeus pelos nazis se poderá evitar uma repetiçãoFoto: Nir Alon/ ZUMAPRESS.com/picture alliance

Comunidade judaica "orgulhosa"

A pequena comunidade judaica nos EAU saúda vivamente o projeto, de que se diz "orgulhar".

"Ao ensinar o Holocausto, os EAU querem mostrar o que pode acontecer quando pessoas de religiões e culturas diferentes não sabem coexistir", disse à agência de notícias France-Presse o líder comunitário Alex Peterfreund. Os avós do cidadão belga, que vive nos EAU desde 2014, foram assassinados no Holocausto.

Outro sinal que pode ser visto como encorajador é o aumento, nos últimos anos, da procura de cursos de hebraico nos Emirados Árabes Unidos e noutros estados do Golfo.

No que são hoje os EAU vivem judeus há mais de mil anos. A comunidade atual - estimada em cerca de 3.000 pessoas - é constituída pelos seus descendentes, mas principalmente por estrangeiros imigrantes, frequentemente por motivos profissionais. A comunidade judaica é bastante visível no país: há várias sinagogas, restaurantes kosher e um centro judeu.

"A vida judaica floresce aqui", disse, em setembro passado, ao jornal israelita "Jerusalem Post" o rabino Levi Duchman, que vive nos EAU. Há alguns anos, judeus do Iémen, um país em guerra civil, acossados pelo grupo rebelde islâmico radical huthi, também procuraram abrigo junto de familiares nos Emirados.

"Experiências históricas dolorosas"

Até agora, não se verificou um movimento significativo de rejeição ou ultraje em relação aos planos escolares. Mas tanto nos EAU como noutros países da região, o ensino do Holocausto na escola é discutido de forma bastante controversa.

Ebtesam al-Ketbi, diretor do Centro de Política dos Emirados em Abu Dhabi, elogia a decisão. A iniciativa faz parte dos esforços de tolerância e coexistência envidados pelos EAU, disse al-Ketbi à DW. "É importante ensinar aos estudantes o que aconteceu, para que não se repitam experiências históricas tão dolorosas". O Holocausto, acrescenta, foi "o exemplo mais significativo de racismo contra pessoas de religião ou etnia diferentes".

Museu da Encruzilhada das Civilizações no Dubai
Museu da Encruzilhada das Civilizações no DubaiFoto: Karim Sahib/AFP

Ahmed Obaid Almansoori, fundador do Museu da Encruzilhada das Civilizações no Dubai, que inclui uma exposição dedicada ao Holocausto, concorda. Numa entrevista recente com a France-Presse, Alsmansoori lamentou que o Holocausto ainda seja amplamente negado. "Se quisermos a empatia das pessoas, temos de ter empatia com elas", afirmou Almansoori.

Aparentemente, nem todos partilham dessa visão. Segundo a France-Presse, no livro de visitantes da exposição, para além das entradas elogiosas, há também comentários negativos ou cheios de ódio, incluindo ditos como "abaixo o imperialismo sionista".

Afirmações do cientista político dos EAU Abdul Khaleq Abdulla, nas plataformas digitais, também foram notadas. O Holocausto não tem "nem valor nacional nem educacional" como tema, escreveu o docente no Twitter, acabando por ser citado em vários meios de comunicação social. Abdulla disse esperar que os planos anunciados não fossem verdade. A organização palestiniana Hamas, que governa a Faixa de Gaza e é classificada como uma organização terrorista pela União Europeia, expressou oposição ainda mais feroz. As lições são um "endosso da narrativa sionista", declarou um porta-voz da organização militante, que em 2009 disse que o Holocausto era "uma mentira inventada pelos sionistas".

Resta saber até que ponto a educação escolar poderá contrariar as tendências de negação ou relativização do Holocausto no futuro.

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