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Em tempo de protestos, aumentam ataques em Cabo Delgado

DW (Deutsche Welle)
21 de novembro de 2024

Grupos terroristas intensificaram ataques em Cabo Delgado. Especialistas alertam para o risco de a atenção estar a ser desviada do combate ao extremismo violento devido às ações de contenção das manifestações.

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Ataque terrorista em Cabo Delgado, em novembro de 2020
Grupos terroristas intensificaram as suas ações nos distritos de Muidumbe, Meluco e Ancuabe, nos últimos diasFoto: Privat

Nos últimos dias, grupos terroristas intensificaram as suas ações, atacando distritos como Muidumbe, Meluco e, mais recentemente, Ancuabe. Relatos de residentes indicam que, no ataque do último fim de semana, mais de uma dezena de pessoas foram mortas, incluindo membros dos Namparamas, um grupo tradicional de autodefesa das comunidades.

Em entrevista à DW, Abudo Gafuro, ativista cívico que acompanha atentamente a situação de extremismo violento em Cabo Delgado, conta que, "uma força inimiga [terroristas] surpreendeu os Namparamas e capturou 15 jovens. Desses, apenas cinco conseguiram escapar. Os restantes foram decapitados. Além disso, há relatos de mais três pessoas mortas por resistirem ao grupo terrorista".

Enquanto isso, protestos liderados pelo político Venâncio Mondlane, que contesta os resultados das eleições de 9 de outubro, têm mobilizado milhares de jovens, mães e outros cidadãos em várias capitais provinciais.

Protesto em Pemba em novembro de 2024
Protesto em Pemba contra os resultados das eleições gerais, divulgados pela Comissão Nacional de Eleições, que atribuem a vitória ao partido no poder, a FRELIMOFoto: DW

As manifestações, que duram há cerca de um mês, têm resultado em confrontos diretos com a polícia.

João Feijó, pesquisador do Observatório do Meio Rural, observa que os dois fenómenos têm um denominador comum: "por um lado, um levantamento popular da juventude urbana, dos mais velhos, das 'mamanas', não só as classes mais pobres das periferias das cidades, mas também as classes médias."

Por outro lado, frisa, os protestos "e essa guerrilha rural que existe em Cabo Delgado são o mesmo fenómeno: é um país cada vez mais comandado por uma oligarquia que tem acesso ao poder central e depois conseguem aceder a grande parte dos recursos, mas não cria emprego, não distribui a riqueza".

Terrorismo "alimenta-se do caos"

Feijó alerta que o uso intensivo das forças de segurança nas cidades pode enfraquecer o combate ao terrorismo. Isto porque, explica, "este movimento de grupos armados não estatais, que estão a atuar no nordeste de Cabo Delgado, alimenta-se do caos".

Pesquisador moçambicano João Feijó
João Feijó: "Quando há este descontentamento político, [os grupos armados] apanham boleia"Foto: DW

"Quando há este descontentamento político, eles apanham boleia e, com o aumento da contestação nas principais cidades do país, com a desconcentração dos recursos pelos bairros dos grandes centros urbanos do país, vão faltar recursos em Cabo Delgado para combater os terroristas".

Feijó acrescenta ainda que tudo isto "vai desmotivar os elementos das Forças Armadas de Moçambique", que estão a ver, "nos vídeos, helicópteros a sobrevoarem zonas periurbanas de Maputo, a atirar gás sobre os quintais das zonas onde moram as respetivas famílias". Algo que, conclui, lhes vai gerar "um grande descontentamento, porque eles não têm estes recursos na frente de combate".

Também Josué, um jovem empreendedor de Pemba, entende que o Governo "não pode perder o foco".

"Enquanto as forças estão concentradas nas manifestações urbanas, os terroristas aproveitam para atacar no norte. Precisamos lembrar que o desafio maior continua a ser o terrorismo". 

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