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Em Portugal, a esperança dos emigrantes da Guiné-Bissau não morre

14 de novembro de 2012

Estão distantes por razões diversas. Vieram em busca de paz e de uma vida melhor. Mas os guineenses em Portugal seguem com atenção o que se passa no seu país e não escondem a tristeza perante a situação na Guiné-Bissau.

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Lisboa Elevador
Lisboa ElevadorFoto: Stefan Franz/Fotolia

A comunidade guineense radicada em Portugal lamenta a trajetória política Guiné-Bissau nos últimos 14 anos, desde que o país começou a ser assolado por golpes de Estado, encabeçados por militares. Os golpes levaram ao derrube de vários governos e assassinatos de alguns dos seus dirigentes. A instabilidade obrigou muitos guineenses a escolherem a diáspora como destino. Mas o desejo de regresso à pátria está sempre presente nos seus planos, diz Luísa Santos: “Eu desde que estou aqui nunca mais fui lá. Se ficar melhor eu vou. É a minha terra natal. Mas agora …”.

O Presidente deposto da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, e o ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Junior, saudados pela diáspora
O Presidente deposto da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, e o ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Junior, saudados pela diásporaFoto: picture-alliance/dpa

Todos estes emigrantes têm em comum o forte interesse por aquilo que se passa no seu país. Sobretudo seguem com atenção os acontecimentos que, desde 1998, têm manchado o nome da Guiné-Bissau. As várias crises político-militares, que fazem do país um Estado falhado, condicionaram muitos dos projetos de regresso à pátria. Por exemplo os de Adolfo Djaló, que atravessou o Mediterrâneo em direção a Espanha, para depois chegar a Portugal, por causa da instabilidade: “Ó pá, até me sinto mal. Até que gostaria de voltar, mas está mesmo complicado e cada vez está pior”.

Preocupados com o futuro

A preocupação pelo futuro é partilhada pela jovem modelo, Ludmila Semedo: “Neste momento eu estou muito dececionada com o meu país”. Apesar de muitos jovens guineenses em Portugal estarem dependentes de trabalho pontual ou precário, a alternativa de um regresso não se coloca, diz.Edson Incopté, que veio para Portugal em 2000, pouco depois da crise de 1998, esteve recentemente em Bissau: “Realmente a situação lá não está fácil”, conclui, lamentando ainda a impotência dos guineenses no exterior de ajudar o seu país. No sábado, 10 de novembro, um grupo de ativistas guineenses em Lisboa fez questão de assinalar publicamente o Dia da Comunidade Guineense. Entre eles, o músico Sidónio Pais, que é a favor do diálogo como via para a solução da crise no país. O artista acredita que a grande maioria dos seus conterrâneos partilha esta atitude: “O problema é que há uma ínfima minoria de guineenses que tem estado a fazer tudo para que este diálogo não tenha lugar. Mas os políticos e os militares que ainda têm dúvidas de que o diálogo é a melhor solução, acabarão por compreender”

Um dos raros livros de ficção que retrata a realidade da imigração africana em Portugal
Um dos raros livros de ficção que retrata a realidade da imigração africana em PortugalFoto: Aida Gomes
Depois da guerra colonial, muitos guineenses optaram por viver e trabalhar em Portugal
Depois da guerra colonial, muitos guineenses optaram por viver e trabalhar em PortugalFoto: picture-alliance/dpa

A esperança de um futuro melhor para a Guiné-Bissau

O professor universitário Tcherno Djaló, que no mesmo dia 10 de novembro lançou o livro “O Mestiço e o Poder” – um estudo para tentar compreender o guineense – olha para o passado para analisar o presente. Diz que os acontecimentos recentes são percalços no caminho de uma jovem nação: “ Nós temos a convicção de que as coisas acabarão por mudar e temos mesmo que trabalhar para que as coisas mudem”.

A reconciliação implicará em primeiro lugar o entendimento entre as partes, refere o investigador, que defende a unidade entre os guineenses. Apesar da situação difícil, a maioria dos guineenses contactados pela DW África, acredita como Antonieta e Luísa que melhores dias virão. E Edson Incopté aposta sobretudo nas jovens gerações guineenses: “Temos que acreditar que esta nossa geração irá fazer a diferença. A esperança não pode morrer, a esperança não morre nunca”.

Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha

Em Portugal, a esperança dos emigrantes da Guiné-Bissau não morre