Em Angola detenção antecede manifestação
"Foi ontem (27.03), às 10 horas e 30 minutos, quando o Alberto António dos Santos estava no mercado da Asa branca e foi surpreendido por um grupo de individuos que se apresentou como sendo da Direção Nacional de Investigação Criminal (DNIC). Um dos elementos do grupo exibiu uma fotografia dizendo estar à sua procura."
E foi assim que Alberto António dos Santos foi detido, segundo o seu primo José Baião. O ativista assistiu a 29 de maio do ano passado à detenção/rapto de outros dois ativistas, Isaías Cassule e Alves Camulingue, quando se manifestavam, em Luanda, contra o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos.
De acordo com o primo do detido essas sinformações lhe foram passadas pelas pessoas que testemunharam o sucedido, mas ele tem uma dúvida: "Não sei se de facto apresentaram um mandato de captura ou não, algemaram-no e levaram-no para um carro de cor azul escuro. Com vidros fumados."
De lembrar que até hoje não se sabe o paradeiro dos dois ativistas, mas a polícia, suspeita de os ter detido, nega tudo.
Os antecedentes da detenção de Alberto António
De salientar que a detenção de Alberto António acontece depois deste ter dito a Voz da América que a polícia ainda não o tinha intimado a prestar declarações, na qualidade de testemunha da detenção/rapto de Cassule e Camulingue.
Mas desta vez confirma-se que o detido está mesmo na polícia: "De facto está lá preso, mas ainda não foi ouvido. Segundo os investigadores, que estavam na presença do chefe máximo que o mandou deter, ainda não há outra infomação."
Entretanto, 24 horas depois da sua detenção não se sabe do que é acusado. Alberto António dos Santos também não tem assitência jurídica, diz o seu primo José Baião: "Não podemos ainda contactar um advogado porque desconhecemos o crime de que está a ser acusado. "
Manifestações a vista
De lembrar que as manifestações deverão estar de regresso à Luanda no próximo sábado. O Movimento dos Jovens Revolucionários pretende exatamente protestar contra o desaparecimento dos dois ativistas, para além de exigir mais justiça social.
Os jovens garantem que a manifestação é legal. A última contestação no país, e por sinal referente a este caso, foi realizada a 22 de dezembro último.
Sobre a detenção de Alberto António o jornalista angolano Coque Mukuta mostra falta de confiança na atitude da polícia: "O que se quer fazer nesta altura é somente mostrar que estão a trabalhar, o que pode não ser verdade, e mostrar, só porque está prevista uma manifestação."
Também o jornalista considera que a detenção poder ser uma forma de intimidação para os que pretendem sair às ruas no dia 30 de março.
Recorde-se que as manifestações em Angola têm sido duramente reprimidas pela polícia, e muitas vezes até abortadas à nascença.
Ativistas dos direitos humanos e jornalistas também têm sentido o peso da força da polícia.
Convidado a fazer um prognóstico de mais uma manifestação Coque Mukuta não mostrou muito otimismo: "Espero que não haja espancamento e maus tratos contra os jovens."
O jornalista lembra o seguinte: "Temos uma polícia pouco esclarecida, a polícia secreta é também mal instruída e com comandos muito diferentes e que pode ser uma surpresa em termos de violência. Desejamos que a manifestação de sábado venha a ser um sucesso para os jovens, mas vamos esperar para ver."