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Em Angola analistas minimizam suspensão da IURD

4 de fevereiro de 2013

Governo angolano suspende atividades da Igreja Universal do Reino de Deus depois da morte de 16 pessoas durante um culto. Mas no país erguem-se vozes a pedir mais do que isso, querem a responsabilização dos culpados.

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IURD, Igreja Universal do Reino de Deus em Moçambique
IURD, Igreja Universal do Reino de Deus em MoçambiqueFoto: DW/J.Beck

Durante 60 dias a atividade da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) vai ser suspensa em Angola por ordem do governo.

Também cultos de seis outras igrejas evangélicas, não legalizadas, vão ver interditas as suas práticas até conclusão contrária.

Estas suspensões nascem do relatório de conclusões da Comissão de Inquérito, indigitada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, na sequência do acidente em Luanda no passado dia 31 de Dezembro, de onde resultaram 16 vítimas mortais por asfixia e esmagamento.

Responsabilização exige-se

IURD em Tete, Moçambique. A igreja tem muitos fiéis, principalmente em lugares onde há mais pobreza
IURD em Tete, Moçambique. A igreja tem muitos fiéis, principalmente em lugares onde há mais pobrezaFoto: DW/J.Beck

Para o jurista David Mendes, a decisão tomada não diminui em nada a dimensão da catastrofe: "O que o Governo está a fazer era uma ação de charme, porque uma suspensão de 60 dias não significa nada."

David Mendes levanta primeiro a questão da inconstitucionalidade: "Sendo um direito constitucional a crença religiosa, essa medida do Presidente é em nosso entender inconstituicional. O que tem que haver é responsabilização coletiva da igreja enquanto instituição e responsabilização individual das pessoas que estiveram na frente desta atividade. "

 A Comissão de Inquérito conclui que as mortes na Vígilia do Dia do Fim, se deveram à superlotacão no interior e exterior do Estádio da Cidadela, causada por “publicidade enganosa”.

A respeito disso David Mendes concorda que era enganosa: "A publicidade era que aquele era o dia final do sofrimento. Quem fosse para aquele evento o seu sofrimento terminaria."

No entender do jurista as pessoas acreditavam, por exemplo, que os que não têm emprego passariam a ter, os que não têm marido passariam a ter, os que não tinham uma mulher, passariam a ter, os que não tinham dinheiro passariam a ter...

David Mendes lembra que "não é porque causa de uma oração de um dia que as pessoas vão obter mais dinheiro, ou vão obter emprego ou um casamento. Isso é uma publicidade enganosa."

Desrespeito a vida das pessoas
A Procuradoria-Geral da República angolana, anunciou que vai “aprofundar as investigacões e a consequente responsabilizacão civil e criminal”.

Vendedoras de rua em Luanda. Cerca de 40% da população angolana vive abaixo da linha da pobreza
Vendedoras de rua em Luanda. Cerca de 40% da população angolana vive abaixo da linha da pobrezaFoto: DW/R. Krieger

A vígilia da IURD, para além de ter decorrido sem um plano legal que tivesse em conta as  condições de segurança do espaço, não respeitou a situação que se vivia no momento e prosseguiu com a celebração.

David Mendes lembra que as pessoas mesmo sabendo que tinham morrido 16 pessoas não foram capazes de suspender o ato. Ele vai mais longe e remata: "Ficaram mais virados para o culto do que suspender o ato, no mínimo até como uma medida de respeito à vida das pessoas que haviam morrido."

Entretanto, para alguns fieis a medida não é bem aceite, pois têm a impressão que lhes foi negado o direito à prática religiosa, enquanto para outros a suspensão foi satisfatória para impedir que se comercialize a religião.

Em comunicado a Comissão de Inquérito solicita as autoridades a apelarem aos fiéis das igrejas visadas e a toda a população em geral, para que se mantenham "serenos",
e cumprirem "cabalmente as decisões tomadas".  

Recorde-se que o culto, denominado "Vigília do Dia do Fim", concentrou dezenas de milhares de pessoas que ultrapassaram, em muito, a lotação autorizada do Estádio
da Cidadela. 

Autora: Francisca Bicho/LUSA
Edição: Nádia Issufo / António Rocha

Em Angola analistas minimizam suspensão da IURD