Violência durante eleições no Uganda
19 de fevereiro de 2016Depois de votar, esta quinta-feira (18.02), o Presidente ugandês Yoweri Museveni disse aos jornalistas que ia descansar. "Não tenho conseguido dormir", confidenciou. "Amanhã, vou caminhar e ver as minhas vacas."
Na manhã de sexta-feira, a Comissão Eleitoral divulgou resultados parciais: Museveni, no poder há três décadas, ia à frente da contagem, com quase 62% dos votos. Em segundo lugar, a larga distância, estava o principal candidato da oposição à eleição presidencial, Kizza Besigye, com 33,5%, quanto estavam contabilizados os votos de cerca de 13% do total de eleitores registados.
O opositor Kizza Besigye foi libertado ao final da tarde de quinta-feira após ter sido detido na capital do país, Kampala, junto a uma casa que suspeitava servir de centro ilegal de contagem dos votos gerido pelo Movimento de Resistência Nacional, o partido no poder, e pela polícia. Momentos antes, criticara o processo eleitoral perante os jornalistas.
"Isto tem de parar", disse Besigye. "Se o senhor Museveni não quer eleições, não tem de as convocar. Mas, se as convoca, que as deixe ter lugar. Para quê gastar o dinheiro do país a organizar uma eleição se quer impor a sua vontade?"
De acordo com a polícia, Besigye não foi detido, mas apenas "escoltado" até à sua residência, após lhe ter sido negado o acesso a um edifício onde os civis não podem entrar.
Protestos
O opositor já fora detido na segunda-feira durante algumas horas. Os seus apoiantes ergueram barricadas e lançaram pedras à polícia, que respondeu com disparos e gás lacrimogéneo. Uma pessoa morreu e 19 ficaram feridas.
O cenário repetiu-se esta quinta-feira. A falta de boletins de voto, os atrasos na abertura das assembleias de voto e suspeitas de fraude levaram a violentos protestos em vários pontos do país. Nos subúrbios de Kampala, a polícia respondeu com gás lacrimogéneo e tiros quando a população invadiu uma casa onde alegadamente se escondiam urnas com votos falsos.
"Sem problemas"
O encerramento oficial das urnas estava previsto para as 16h00, mas a Comissão Eleitoral foi obrigada a prolongar a votação por três horas. Ainda assim, o presidente da Comissão, Badru Kiggundu, mostrou-se satisfeito com a realização das eleições.
"O processo de votação decorreu sem problemas, as tecnologias funcionaram extremamente bem e, por isso, o investimento não foi em vão", afirmou.
Ainda assim, entre os 15 milhões de eleitores ugandeses, muitos não puderam votar. Em algumas áreas, a votação foi adiada para sexta-feira.
Bloqueio de redes sociais
Entretanto, multiplicam-se as críticas ao Governo de Yoweri Museveni, que, durante o dia das eleições, bloqueou o acesso às redes sociais, como o Twitter, o Facebook ou o WhatsApp.
A Amnistia Internacional fala numa violação dos direitos fundamentais dos ugandeses à liberdade de expressão e à informação. Uchena Emelonye, representante no Uganda do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, também se mostrou preocupado.
"Isto tem implicações nos direitos humanos e já questionámos as autoridades", revelou.
O líder da missão de observadores da União Europeia, Edward Kukan, afirma, no entanto, que os problemas registados durante a votação não deverão ter um impacto significativo no desfecho das eleições.
Resultados finais das eleições gerais deverão ser anunciados no sábado.