Eleições na Tanzânia: Oposição diz que não aceitará fraude
29 de outubro de 2020O atual Presidente John Magufuli – do Partido da Revolução, o Chama Cha Mapinduzi (CCM) – já enxerga como certa a sua permanência por mais cinco anos à frente do Governo. Ao todo, 15 candidatos participaram das eleições presidenciais e legislativas nesta quarta-feira (28.10) na Tanzânia.
Os resultados do escrutínio são esperados dentro de uma semana e na Tanzânia não é permitida a contestação legal dos resultados das presidenciais.
O principal adversário de Magufuli, Tundu Lissu – do Partido para a Democracia e o Progresso (Chadema) - subiu o tom das críticas à legalidade do pleito. O candidato disse à agência Reuters que estava a receber relatórios de irregularidades generalizadas e que representantes do seu partido estavam a ser impedidos de entrar nas mesas de voto. "A afluência às urnas é maciça", disse Lissu, 52 anos. "A única preocupação são estas irregularidades. Não aceitaremos uma fraude na eleição", declara Lissu.
Maalim Seif Sharif Hamad – do partido Aliança pela Mudança e Transparência (ACT-Wazalendo) – lamenta as condições em que a votação decorreu.
"Os nossos membros foram expulsos das mesas de voto. Apenas funcionários da Comissão Nacional de Eleições, agentes da polícia e funcionários do partido CCM foram autorizados a ficar lá dentro com observadores amigos do CCM. Por isso, fizeram o que queriam", conclui o líder de outra corrente oposicionista.
Confrontado pela imprensa sobre irregularidades na votação, o presidente da Comissão Nacional Eleitoral (NEC, na sigla em inglês), Semistocles Kaijage, afirmou que as alegações de enchimento de urnas "não foram confirmadas" e que não tinha recebido qualquer reclamação.
A perceção do voto
Nas assembleias de voto, segundo testemunhos recolhidos pelas agências de notícias, a perceção dos tanzanianos sobre a votação não foi unânime. Eleitores têm opiniões distintas sobre as eleições, alguns consideram que foram mais ordeiras e mais bem conduzidas do que as anteriores.
"Estou muito feliz por poder exercer o meu direito de voto. Até agora, o processo tem sido impecável e está de acordo com todos os regulamentos estabelecidos, não há problemas", disse o eleitor Eid Chande.
Por outro lado, outros não escondem a deceção: "Esta eleição está a ser uma confusão total. Isto não é uma eleição", opinou o eleitor Khalifa Kombo.
Ao longo da quarta-feira, Magufuli não fez qualquer comentário sobre as alegadas irregularidades ou incidentes. O atual Presidente dirigiu-se antes de votar aos eleitores e à NEC. "Hoje é um dia importante para a promoção da democracia no nosso país. Quero agradecer à comissão eleitoral pelo seu trabalho”, considerou.
Campo eleitoral restrito
Em Zanzibar, os dias que antecederam as eleições foram de grande tensão, com a oposição a acusar as autoridades pela morte de ao menos 10 apoiantes do partido Chadema. A polícia nega qualquer excesso, mas confirma ter usado gás lacrimogéneo e detido jovens que bloquearam a descarga de cédulas.
Jornalistas que cobrem as eleições dizem que houve também problemas a nível nacional no acesso à informação de algumas plataformas de comunicação social e alegações de que as autoridades estariam "a tentar bloquear os serviços VPN". Na terça-feira, houve relatos de problemas generalizados no funcionamento de redes sociais como o Twitter.
Para além de não ter concedido acreditação a muitos integrantes da imprensa internacional, o executivo tanzaniano também não autorizou a presença de observadores da União Europeia e das Nações Unidas. O partido governamental CCM - uma versão do grupo que detém o poder desde a independência da Grã-Bretanha em 1961 - ganhou a presidência com 58% dos votos em 2015 e detém atualmente cerca de três quartos dos assentos parlamentares.