Eleições decisivas para o ANC na África do Sul
7 de maio de 2019Vinte e cinco anos depois do fim do Apartheid, os observadores traçam um quadro sombrio da situação política, social e económica da África do Sul. "Houve uma série de acontecimentos negativos no país, que afetaram sobretudo a situação económica", lembra em entrevista à DW a especialista Melanie Müller, da Fundação Ciência e Política de Berlim, na Alemanha.
No país mais industrializado de África, a economia está estagnada e a dívida nacional é preocupante. Oficialmente, a taxa de desemprego é de 27%, o que significa que mais de um em cada dois jovens está desempregado.
Muitos observadores dizem que o ANC, o partido no poder, contribuiu em muito para a miséria no país. O Congresso Nacional Africano governa o país desde 1994, ano em que tiveram lugar as primeiras eleições democráticas. Muitos membros do ANC, incluindo o ex-Presidente Jacob Zuma, alvo de inúmeras acusações de corrupção, são acusados de destruir a economia sul-africana através da má administração e da corrupção.
A presidência de Zuma (2009-2018) ficou marcada pelos controversos negócios da influente família Gupta, que muito lucrou graças às estreitas relações com o antigo Presidente e tinha uma enorme influência sobre os órgãos públicos.
O sucessor de Jacob Zuma, Cyril Ramaphosa, prometeu um novo começo. Tem-se apresentado como um reformador que quer impulsionar a economia e combater a corrupção. "Ramaphosa anunciou planos para combater a corrupção. Ele agiu muito rapidamente e substituiu pessoas no governo que foram acusadas de corrupção", afirma a especialista Melanie Müller.
Mas a questão fundamental é se isso será suficiente para restabelecer a confiança no partido. "Tenho a impressão que há muitas pessoas na África do Sul que preferiam uma abordagem mais forte", diz Müller. Além disso, Ramaphosa foi vice-presidente entre 2014 e 2018, ainda sob a liderança de Jacob Zuma.
Condições ideais para a oposição?
Os partidos da oposição querem aproveitar essa situação. "Na África do Sul que queremos construir, não há lugar para a corrupção nem para políticos corruptos", anunciou durante a campanha eleitoral Mmusi Maimane, da Aliança Democrática (DA), o maior partido da oposição. Durante muito tempo, a Aliança Democrática foi considerada um partido da minoria branca rica, mas isso mudou. Nos últimos anos, o partido rejuvenesceu a sua liderança. Maimane é o primeiro presidente negro da AD. Com esta tática, o partido conseguiu conquistar 89 lugares no Parlamento nas últimas eleições, em 2014. O ANC obteve 249 assentos, mas perdeu a maioria de dois terços.
Além da Aliança Democrática destacam-se sobretudo os Combatentes da Liberdade Económica (EFF) de Julius Malema, ex-membro do ANC, que desde 2014 é terceiro partido sul-africano mais forte. O EFF considera-se um movimento radical de esquerda e defende a nacionalização de empresas de mineração e a expropriação de terras de brancos, sem indemnizações.
Os ataques do partido de Malema ao ANC também são frequentes. "Eles dizem que o ANC trouxe liberdade política e democrática, mas até hoje não foi garantida liberdade económica para a maioria dos negros sul-africanos", lembra a especialista Melanie Müller.
E essa pressão já está a ter efeitos, segundo muitos observadores. O Presidente Cyril Ramaphosa anunciou uma mudança constitucional para privar os proprietários de compensações, se necessário. O objetivo é distribuir a terra de forma mais igualitária, já que continua em grande parte nas mãos de proprietários brancos, apesar do fim do Apartheid.
Xenofobia como tema de campanha
Outro tema que marcou a campanha eleitoral foi o aumento da violência contra trabalhadores de outros países africanos, como Moçambique, Zimbabué ou Zâmbia. "Aqui na África do Sul, os estrangeiros são muitas vezes vistos como bodes expiatórios", diz o jornalista angolano António Capalandanda, que chegou há 10 anos à África do Sul como refugiado.
"Este ambiente de insegurança que se vive aqui na África do Sul, sobretudo nesta fase em que se aproximam as eleições, acaba por afetar principalmente os imigrantes", conta em entrevista à DW. "Há este clima de medo. As pessoas saem de casa, mas se voltam dizem graças a Deus."
O tema da xenofobia teve um papel importante na campanha eleitoral, confirma a especialista alemã Melanie Müller. "O governo do ANC criticou claramente esses ataques, mas há sempre atores que entram nessa onda xenófoba. Na África do Sul, esse é um tema de campanha populista semelhante ao que, infelizmente, também ocorre na Europa."
"Os sucessivos governos do ANC aumentaram as desigualdades entre ricos e pobres, ao ponto de a África do Sul ser considerada uma das sociedades mais desiguais a nível mundial", diz António Capalandanda. Para o jornalista angolano, nem o ANC nem o Presidente Ramaphosa fizeram o suficiente para combater a violência contra estrangeiros. "Demasiado tarde e muito raramente se manifestou contra a xenofobia nesta campanha", diz.
Apesar das altas taxas de desemprego, dos problemas económicos e da corrupção, a especialista alemã Melanie Müller acredita que o ANC irá continuar a ter uma posição de destaque na estrutura política da África do Sul, a julgar pela maioria das sondagens divulgadas até agora.