Dívidas ocultas: Porque o silêncio em relação ao VTB?
30 de abril de 2019O banco russo VTB parece ter sido posto de lado no caso das dívidas ocultas moçambicanas. Mas dos cerca de dois mil milhões de dólares envolvidos, 535 milhões foram emprestados pelo VTB a MAM, uma das três empresas que criadas no contexto das dívidas.
Mas até agora o Credit Suisse é o banco mais referido no escândalo de corrupção e o único alvo de uma ação na justiça em Londres.
O economista Muzila Nhansal interroga-se sobre esse silêncio em torno da participação do VTB, mas antes ressalta: "Há certos bancos internacionais que foram postos de fora desta "bolada". Porque estão a atacar só a Credit Suisse como se fosse o único banco [envolvido], porque não se está a atacar o VTB russo, por exemplo? Porque as mesmas ações não são feitas contra a Rússia?"
VTB, "resolver esse problema de outra maneira"
Assim que o escândalo das dívidas ocultas explodiu, Moçambique muito rapidamente aproximou-se da Rússia com quem chegou a um acordo cujos detalhes não são publicamente conhecidos. Em março de 2018 o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, visitou Moçambique e nessa altura foi anunciado um entendimento sobre como sanar a dívida. O ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros José Pacheco disse na altura que "esteve no país o diretor-geral do banco russo VTB [Andrey Kostin] e trabalhou com os setores pertinentes nesta área."
Sobre essa aproximação o jornalista Fernando Lima comenta: "Penso que o Governo desde há muito que estabeleceu canais de comunicação com o VTB e com a própria administração russa no sentido de resolver esse problema de outra maneira."
E Lima revela: "Eu sei que numa reunião que aconteceu no ano passado inclusivamente se disse que se as coisas ficassem muito complicadas havia um tomador do total das dívidas e esse tomador era russo, mas não se disse quem era e que a situação estava sob controlo. Isto vale o que vale, mas é o que foi explicado aos membros do comité central sobre o assunto."
Baixa do Credit Suisse na guerra entre titãs?
Fora os acertos pouco transparentes entre Governos terão havido também jogadas opacas no mundo poderoso dos grandes bancos. O economista Muzila Nhansal desconfia que a exposição negativa a que o Credit Suisse está agora sujeita seja uma espécie de revanche a algum setor do poderoso mundo bancário excluído do acordo com as autoridades moçambicanas nesta "bolada".
É tentar ver quem está por detrás do VTB, porque às vezes pode aparecer como uma empresa russa mas não sabemos quem são os acionista e interesses que estão por detrás, talvez seja alguém que ninguém tenha interesse em tocar", cogita o economista.
E Nhansal entende ainda que "os russo também deveriam [ser alvo de uma ação] porque o dinheiro não foi só do Credit Suisse, nem que me digam que o dinheiro do VTB foi o único licitamente pedido, ainda não ouvi uma explicação sobre isso, ainda há muitas perguntas que estão por responder. Mas que é estranho que seja só o Credit Suisse a pagar pelo caso é estranho sim. Eu acredito que é um problema dentro do círculo dos banqueiros, há quem não engoliu essa do Credit Suisse "ter passado a perna aos outros"."
VTB, uma porta estrategicamente encerrada?
Se no caso do Credit Suisse, banco suíço, está claro que houve ilícitos e já decorrem até ações na justiça, no caso do VTB quase nada se sabe.
É caso para perguntar se possíveis ilícitos na contração do empréstimo junto do banco russo ficariam idefinidamente no segredo dos deuses?
"Mais ou menos, porque inclusivamente esse acordo ainda é mais reles do que todos os acordos como Credit Suisse, ou seja, quando digo mais reles significa que as guardas em relação ao acordo foram muito piores porque os russo não têm as mesmas regras de procedimentos ou políticas, que têm os bancos ocidentais", responde Lima.
O jornalista entretanto sublinha: "A apesar das relações de Moçambique com a Rússia não serem, por exemplo, comparativamente as mesmas com a China, mas ainda há uma boa relação e aquilo que Moçambique adora nestas coisas, como a maioria dos países africanos, é que estes países, nomeadamente aqueles da herança da União Soviética, também têm este princípio de comer e calar e portanto não deixam escapar cá para fora muita informação."
"E aquilo que Moçambique está a tentar fazer o melhor que pode é ver se junta as pontinhas todas e faz com que o menor número possível de informações sobre todas estas jogadas venha cá para fora", finaliza Fernando Lima.
É caso para perguntar se Moçambique deve aguardar pela explosão de mais uma bomba um dia...