Dois anos depois do início da Primavera Árabe, Tunísia ainda não tem paz
Na província de Siliana, no norte da Tunísia, confrontos entre sindicalistas e policiais estenderam-se ao longo de dias, deixando mais de 300 feridos. Os membros da maior organização sindical do país, UGTT, protestam contra a injustiça social e a brutalidade policial. Na capital, Tunes, no início de dezembro, islamistas atacaram um comício do UGTT. Em outros lugares, a situação também é tensa.
O ato desesperado de um vendedor de vegetais tunisino na cidade de Sidi Bouzid desencadeou a onda inicial de descontentamento e manifestações no país e que rapidamente se espalhou pelo Oriente Médio.
Mohamed Bouazizi pôs fogo no próprio corpo porque as autoridades confiscaram-lhe a banca de venda de legumes por falta de autorização. A notícia se espalhou rapidamente e tunisinos em todo o país desabafaram sua raiva da corrupção, do comportamento arbitrário das autoridades e da falta geral de perspectivas com protestos.
O então presidente Zine el-Abidine Ben Ali fugiu da Tunísia no início de 2011 e o partido islâmico Ennahda saiu vitorioso das eleições em outubro do mesmo ano. A sociedade tunisina está cada vez mais polarizada desde então.
Um país dividido
William Lawrence, chefe do Departamento Norte de África da organização de pesquisa de conflitos International Crisis Group, explica que "as duas principais forças políticas na Tunísia são o partido Ennahda, que venceu as eleições em Outubro de 2011, e o sindicato UGTT, que desempenhou um papel importante na revolução".
De acordo com o especialista, "é cada vez mais claro que a sociedade tunisina está alinhada de um lado ou do outro". "As coisas estão definitivamente ficando mais tensas na Tunísia estes dias", conclui.
Também Radwan Masmoudi, fundador e diretor do Centro de Estudos Islâmicos e Democracia em Washington e Tunes, observa o aumento da distância entre os dois lados. "Os islamistas têm sofrido por 30 anos opressão, prisões, tortura", lembra.
"Os secularistas temem, agora que os islamitas ganharam a maioria no parlamento, que a Tunísia se tornará islamizada semelhante ao modelo iraniano ou ao modelo da Arábia Saudita". Radwan Masmoudi considera "que a chave é incentivar o diálogo e encontrar um consenso".
Uma economia de ajuda externa e corrupção
Mais problemática do que o conflito social é a situação económica da Tunísia que voltou a levar centenas de milhares de manifestantes às ruas há dois anos. As reivindicações por empregos e a desconfiança em relação às autoridades permanecem, diz William Lawrence, do International Crisis Group, explicando que "uma das principais causas da revolução foi a corrupção e não é claro se ela foi atenuada".
"As famílias Trabelsi e Ben-Ali tinham em suas mãos cerca de 180 das 200 empresas mais importantes da Tunísia. E quando essas famílias fugiram, o poder foi transferido para novos interesses, mas não está claro quão incorruptos são esses novos interesses", frisa.
Para estimular sua paralisada economia, a Tunísia é dependente de ajuda estrangeira. Seria necessário reestabelecer o clima favorável aos investimentos, na opinião de Radwan Masmoudi, do Centro de Estudos Islâmicos e Democracia em Washington e Túnis.
"Acho que é crítico também para os interesses europeus que a Tunísia seja um sucesso como modelo para a democracia no mundo árabe, que a Tunísia possa se tornar um modelo que mostre o caminho para outros países árabes como a Líbia e o Egito e outros países, onde se pode construir uma democracia verdadeira, no mundo árabe e no norte da África.
Autores: Andreas Gorzewski/Cristiane Vieira Teixeira
Edição: Maria João Pinto/ Renate Krieger