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"Estamos aqui para queimar ao sol"

Daniel Vasconcelos (Benguela)
14 de abril de 2021

Neste Dia da Juventude Angolana, a DW África foi às ruas ouvir o que os jovens têm a dizer sobre o seu cotidiano. A maioria relata dificuldades económicas, mas tem esperanças que mudanças profundas ocorram no país.

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Angola | Luanda | Movimento Propinas Not
Foto ilustrativa sobre manifestação em janeiro de 2020Foto: DW/M. Luamba

Jovens angolanos de diferentes províncias e dos mais variados estratos sociais não têm muito a comemorar neste Dia da Juventude Angolana, assinalado esta quarta-feira, 14 de abril. O desemprego e as condições de vida desanimam os cidadãos em todo o país. A DW África foi às ruas de Benguela para ouvir alguns testemunhos de jovens angolanos sobre como estão a levar a vida.

O jovem Adelino Jamba, de 33 anos, vive um cotidiano nada fácil. Levanta-se muito cedo e anda debaixo de sol ou chuva para garantir o sustento de sua família. Para o roboteiro, há dias positivos e negativos. O que ele consegue casualmente, leva para casa, "porque é proibido roubar".

Angola Benguela Jugendtag
Adelino Jamba: "Estamos aqui para queimar ao sol"Foto: Daniel Vasconcellos/DW

"Estamos aqui para queimar ao sol, mas um bocado já dá algum jeito. Assim, mesmo quando amanhece, pego o meu carro de mão e venho aqui para procurar [meios de] sobreviver", diz Jamba.

Relatos assim multiplicam-se em Benguela, onde muitos jovens estão insatisfeitos e contestam as condições de vida no país. O lavador de carros João Sapalo, de 25 anos, confessa que está cansado de esperar tanto por dias melhores. "Desde que nasci até aqui, e estamos em 2021... Eu cresci assim [nesta situação]. Dias melhores não chegam, parece algo que está a caminho, mas nunca chega".

Esperança no poder público

Marcelino Cambutali espera que o Governo preste mais atenção aos jovens. De olho nas eleições gerais de 2022, Cambutali apela a todos para que não votem num partido político que não tenha um projeto voltado para a juventude.

Angola Benguela Jugendtag
Marcelino Cambutali trabalha como mototaxistaFoto: Daniel Vasconcellos/DW

Para o mototaxista, o cotidiano de qualquer jovem que trabalha em serviços autónomos e informais em Angola não está fácil.

"Principalmente para nós que dependemos de mototáxi. Espero que o Governo olhe mais para a juventude e faça mais do que falar. O conselho que eu dou para a juventude é votar num partido que tenha um projeto para a juventude. Agora, se esse partido só precisa dos jovens na fase das eleições, do meu lado já não".

Há também desafios para o jovem à procura do primeiro emprego. "Diariamente não tem sido muito fácil, mesmo como estudante, e o país não me oferece a certeza de que em breve terei um emprego", salienta o estudante Celestino Álvaro.

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João Sapalo: "Parece que algo está a caminho, mas nunca chega"Foto: Daniel Vasconcellos/DW

Alternativas governamentais

O secretário provincial do Conselho da Juventude em Benguela, Lucas Catimba, diz que há vários programas de desenvolvimento económico que visa beneficiar os jovens. No âmbito económico, Catimba destaca que são oferecidas capacitações e ferramentas "essenciais" para que o jovem desenvolva-se com autonomia.

"Estamos a falar, por exemplo, do Programa de Apoio ao Crédito, que é um facto. O conselho  tem vindo a encaminhar vários jovens para o  Gabinete de Desenvolvimento Económico Integrado para criarem cooperativas e, através do seu plano de negócios, serem financiados. O crédito parte de 100 mil kwanzas [o equivalente a 130 euros] e 7 milhões de kwanzas [9 mil euros], dependendo do plano de negócio", explica Catimba.

O Dia Nacional da Juventude Angolana é uma homenagem ao guerrilheiro José Mendes de Carvalho, o Hoji-Ya-Henda. Mendes de Carvalho foi combatente do antigo braço armado do Movimento Popular de Libertação de Angola e morreu a 14 de abril de 1968, aos 26 anos, num assalto a uma unidade militar das tropas coloniais portuguesas.

Angola: Primeira rádio comunitária na província de Benguela

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