Dia da Criança em Moçambique: Nem todas têm razão para festejar
Na província moçambicana de Inhambane, há poucas razões para celebrar o Dia da Criança. Isso porque muitas delas estão nas ruas em busca do sustento. E há pouco apoio do Governo para mudar esta situação.
Comemorações sem brilho
Na província de Inhambane, no dia 1 de junho de cada ano, as crianças saem para vários cantos de modo a comemorarem a data, mas nem todas têm motivos para festejar. Este ano de 2019, o lema escolhido para a passagem do Dia da Criança foi "Pela ação humanitária, os direitos da criança em primeiro lugar".
Longe da escola, a trabalhar
Muitas crianças em Inhambane não conseguem passar condignamente esta data, porque precisam trabalhar para sustentar algumas despesas. Em atividades de baixo rendimento nas cidades e vilas, as crianças chegam a ganhar, em media, 15 euros por mês. A maioria delas abandonou a escola e a família.
Bolinhos e chamussas
Alguns estabelecimentos têm contratado crianças de forma sazonal para trabalhos no comércio. A venda de bolinhos e chamussas é uma das atividades mais concorridas, pois não exige muitos requisitos e são produtos de fácil comercialização. As crianças que trabalham com a venda destes alimentos devem apresentar as contas diariamente.
Dormitório dos meninos de rua
As crianças que abandonaram as suas casas não têm para onde ir durante a noite. Na cidade de Maxixe, muitas delas recorrem a este local para dormir. As autoridades governamentais conhecem a situação enfrentada por essas crianças, mas afirmam não ter condições suficientes para ajudá-las. O Governo tem apoiado apenas as crianças órfãs. Mesmo assim, nem todas conseguem ter acesso aos benefícios.
Governo sem recursos
O apoio dado pelo Governo às crianças é insuficiente. Segundo o Instituto Nacional de Acção Social (INAS) em Inhambane, apenas 200 crianças recebem apoio multiforme (uniforme escolar, cadernos, esferográficas, alimentação, habitação e assistência saúde). Esta ajuda só serve para as crianças órfãs e vulneráveis, enquanto as demais acabam não tendo benefícios mesmo com os pais sem condições.
Uso da tecnologia
Mesmo na rua, algumas crianças não ficam sem perceber o funcionamento do mundo globalizado. E usam telemóveis para vários fins como, por exemplo, comunicar-se com seus familiares que se encontram distantes. Alguns meninos chegam a fazer propaganda dos seus produtos nas redes sociais como forma de ganhar mais clientes.
"Este bolo não é para todas as crianças"
No Dia da Criança, várias escolas da província de Inhambane organizam festas para os pequenos. Mas os que passam maior parte do tempo nas ruas a trabalhar não conseguem fazer parte desta celebração. Por isso, muitas crianças, quando questionadas onde vão comer o bolo do dia 1 de junho, respndem que "este bolo não é para todas".
Preservar a cultura
Entretanto, mesmo com o cenário de desigualdade no país, no dia 1 de junho de cada ano, as crianças em Moçambique comemoram a data com cânticos e danças. As escolas organizam concursos de danças para abrilhantar o dia, sendo que o principal objetivo é preservar a cultura desde a primeira idade.
Longa caminhada sem futuro
As crianças que circulam nas cidades e vilas da província procuram ganhar dinheiro rápido, vendendo produtos de baixo custo. O sacrifício é grande. Com o rendimento, muitas vezes, os meninos compram roupas e pagam outras necessidades. Por isso, não conseguem poupar dinheiro, facto que também pode comprometer suas vidas no futuro.