Dezenas de refugiados africanos mortos em naufrágio em Lampedusa
3 de outubro de 2013Exaustos e abalados, os membros das equipas de resgate da pequena ilha de Lampedusa descarregam os corpos das vítimas no porto, colocando-os em fila no chão. Um incêndio na embarcação sobrelotada que levava a bordo provavelmente 500 pessoas, obrigou os refugiados a saltarem para a água. Entre os mortos, há várias crianças e, pelo menos, duas mulheres grávidas.
Nesta tarde desta quinta-feira (03.10) foram salvas mais de 150 pessoas, a maioria oriunda da Eritreia. Os destroços do barco foram encontrados por dois navios pesqueiros que informaram a guarda costeira italiana.
A presidente da Câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini, lamenta que as equipas de salvamento não tenham chegado a tempo. "Pergunto-me porque é que os barcos de patrulha não estavam mais perto da nossa ilha, onde poderiam ter respondido melhor a esta emergência. Algo correu mal. Não compreendo", diz triste Nicolini.
Uma ilha conhecida no mundo
A frustração de Nicolini é compreensível. Na década que passou, a sua pequena ilha com poucos milhares de habitantes tornou-se, em todo o mundo, tristemente conhecida pela chegada de emigrantes e mortes no mar.
Segundo as Nações Unidas, só no primeiro semestre deste ano, cerca de 8.000 refugiados deram à costa italiana. A maioria é oriunda de países em conflito, como o Egito, a Eritreia e a Síria.
Geralmente partem da Líbia em embarcações frágeis com traficantes sem escrúpulos. Na semana passada, 13 pessoas morreram afogadas ao largo da Sicília, quando tentavam alcançar a costa a nado, depois dos traficantes os terem forçado com armas a abandonar o barco, para evitar a guarda costeira italiana.
O diretor do Fórum Europeu e Internacional para a Pesquisa da Migração, Ferruccio Pastore, diz que o número de emigrantes que tenta esta passagem perigosa é resultado do conflito em países vizinhos, mas também da falta de cooperação para impedir os refugiados de embarcar.
Só Itália está preocupada em ajudar
A Itália é o único país que tenta ajudar. "Ninguém está a fazer nada, com excepção das operações, muito importantes, de busca e resgate desenvolvidas pelas autoridades italianas", acrescenta Pastore.
Pastore realça também que a grande maioria das operações de salvamento, tal como foi o caso hoje, são levadas a cabo por pescadores. "A maioria dos barcos não são da marinha nem da guarda costeira, mas privados", conta.
Para o diretor, estas embarcações têm melhores hipóteses de encontrar os barcos com emigrantes, mas "não têm incentivos para os salvar porque ninguém lhes reembolsa os custos da operação e a perda de receitas", explica.
Segundo Ferruccio Pastore, os refugiados vão continuar a pagar aos traficantes e tentar a passagem de alto risco enquanto não lhes for dada a oportunidade de fazerem os seus requerimentos de asilo, não nos países para onde se dirigem, mas naqueles onde se encontram e de onde tentam escapar. O especialista diz que chegou a altura de alterar de forma radical a lei internacional vigente.